quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

A fala da Vereadora Aurora Fumie Doi

Participação da vereadora Aurora Fumie Doi na sessão plenária do dia 17 de novembro de 2009 da Câmara de Vereadores de Cornélio Procópio

Vereadora Aurora Fumie Doi: Boa noite a todos. Na semana passada eu não pude estar presente, por motivos justificados, mas na sessão retrasada já falava que nós fazíamos naquela data uma reflexão sobre a nossa atuação dentro do Legislativo Municipal. Nós temos um mandato de quatro anos, um mandato em que a maioria de nós teve votação merecida porque o povo quis assim, e, naquela data eu já trazia a preocupação da nossa atuação nesta casa enquanto vereadores. Todos nós sabemos qual é a nossa função, qual é a nossa competência nesta casa. É de fiscalizar, é de aprovar ou não as leis, ou de formular os projetos de lei, para que, para que a sociedade, ela consiga com as nossas ações, com as nossas propostas, com a nossa fiscalização ter uma melhor qualidade de vida, de acesso ao bem público.

Até porque, todos nós pagamos tributos e por isso nós, enquanto vereadores ─ digo e repito ─, nós temos que honrar esse compromisso que obtivemos da população fazendo isto: de fiscalizar e de acompanhar tudo o que acontece, não só no Executivo, mas aqui também. E hoje, quando eu abro alguns e-mails, eu tenho a surpresa da nossa Casa, então nós temos que rever essa nossa situação, eu não sei se foi muito amplamente divulgada ou comentada, mas, eu quero comentar, porque é uma situação triste, se for verdadeira, e é por isso que nós temos que apurar, se são verdadeiras ou não, mas que saiu. Todos, principalmente a base de apoio do executivo ela sempre questionou a atuação do Instituto AME, e o Instituto AME eu tenho a maior alegria de tê-lo como parceiro nosso. Porque graças... Pode rir a vontade, não tem problema, né... É graças, se nós tivéssemos, ou eu, que estou aqui nesse mandato há quatro anos atrás, com a retaguarda do Instituto AME, nós não teríamos chegado onde nós estamos chegando, infelizmente eu tenho que dizer isso. Essa é a minha posição e é essa a conduta que eu sempre levo e sempre levei, então, digo e repito, se nós tivéssemos há quatro anos atrás, nessa situação, com o apoio do Instituto Ame, talvez nós teríamos sido mais enérgicos, mais fiscalizadores em todos os sentidos, tanto no Executivo como no Legislativo.

E nós aprendemos com isso, a cada ano nós aprendemos. E muito pelo contrário, a gente não pode recuar nunca. As vezes nós erram0s, mas temos que acertar mais do que errar. E alguns sites né, eu tava vendo aqui um site colorido, bonito, eu não sei de qual cidade é, não é daqui com certeza, diz assim: “Paçoca com Cebola”, é o nome de um blog; e diz assim: “Rolo em Cornélio Procópio”,; rolo tem em todo lugar, não é mesmo? O Instituto Ame Cidade de Cornélio Procópio está denunciando vereadores da cidade que estariam recebendo diárias irregularmente, e é diária, não é das anteriores, porque se nós soubéssemos, se soubermos, acho que cabe igual sanção.

Segundo o Ame, aqui os nossos companheiros vereadores aqui citados, Edgar, Edimar Gomes Filho (PPS), Sebastião Angelino Ramos (PPB) e Vanildo Felipe Sotero (PR), receberam diárias para viagens a Curitiba em datas em que constam como presentes em reunião daquela data. Então, é uma questão séria, que está sendo colocada, e que nós precisamos sim apurar essas irregularidades ou não; eu acho que aqui ninguém está dizendo que cometeu ou não. Mas o fato é que tem documento, né? O Instituto AME solicitou pedido de informação a esta Casa e ela foi respondida com documentos, documentos até registrado pelo presidente desta Casa. Então são vários documentos que o Instituto Ame analisou e que foi colocado a público e que nós tomamos conhecimento na data de hoje.

Então, como alguns blogs já colocaram e o Instituto Ame também coloca denuncia de irregularidades, nós temos que investigar, né? E a Lei Orgânica do Município, no seu artigo 34, ele diz assim, que na legislatura passada nós tivemos uma Comissão Especial de Inquérito, todos sabem qual foi a Comissão Especial de Inquérito, na qual eu participei como relatora, que foi aquela história do pão, do roubo de pão ou do desvio de pão da garagem.
E a Comissão Especial de Inquérito, no artigo 34 diz que nós temos poder de investigação próprio, como se fosse uma autoridade judicial, além de outros previstos no Regimento Interno. E no Regimento Interno, ele diz no artigo 51, também isso, corrobora com isso que a Câmara poderá constituir Comissão Especial de Inquérito pra apurar denúncias de irregularidades, então, como houve e está havendo denuncias de irregularidades. Nós temos sim que montar, de estruturar uma Comissão Especial de Inquérito, como a notícia foi veiculada hoje, nós não tivemos tempo pra fazer o requerimento. Porque diz assim que a Comissão Especial de Inquérito, tem poder pra investigar, mediante requerimento de um terço de nós vereadores, então nos gostaríamos que mais duas pessoas pudessem assinar, porque se não tem indícios, se não tem irregularidades não tem como ficar temendo essa questão. Então, eu gostaria na próxima sessão, no decorrer dessa semana, nós vamos estar fazendo esse requerimento, e nós gostaríamos que pelo menos mais dois vereadores pudessem estar assinando comigo esse requerimento.

[...]

Então, o que sempre pautamos é com a transparência, com a ética. Vossa Excelência, Presidente, disse que entregou o documento que foi pedido, então, claro, o Instituto vai analisar. Já analisou e já apontou. Então, não é o Instituto que vai ter que provar. Nós aqui desta Casa, as pessoas citadas é que vão ter que provar, como o Vereador Mexo, falou, né? Em nenhum momento eu falei que não pode viajar. Se tem um objetivo, tem que fazer quantas forem necessárias essas viagens. Eu fui uma das únicas pessoas que votei contra o aumento da diária no início desse ano, até porque, uma diária a capital ela não custa em hospedagem e alimentação trezentos reais. Na época eu já falava isso. Então isso está completamente fora de propósito.

E outra coisa, Vereador Edimar, Vossa Excelência citou pessoa do nosso grupo, aqui, recibado, não entendi bem, que não declarou patrimônio, acho que tem que denunciar. Isso é claro e notório. Eu também sou a favor que denuncie, não só do grupo, qualquer grupo que seja, se a gente encontra indicio de irregularidade, independente, como cidadão nós temos que denunciar. Eu não estou dizendo que não pode denunciar. Nós temos que denunciar, sim.

E eu não, até aqui, eu não, quando eu coloco a situação do Instituto, eu não estou dizendo se é mentira ou se é verdade. São situações colocadas, até porque as diárias pagas elas têm empenho, ela tem saída e ela tem pagamento. Então a diária foi paga. Foi empenhada, foi paga e foi fechada, foi finalizada. E esses valores que estão aqui, e esáa no site do Instituto, são valores até agosto desse ano. Nós não pegamos o ano passado, o ano retrasado, até, nós queríamos até pegar sim, né, ou de qualquer ano que seja, então, nós não estamos aqui pra contar mentira, ou se é verdade. Nós estamos colocando fatos que foram colocados na imprensa e pra nós também. E isso, pra ser mentira ou não, pra ser verdadeiro ou não, tem que ser provado, sim, claro, Vossas Excelências concordaram com isso.

Falou em licitação. A gente espera que numa administração transparente, é claro que a licitação, ou qualquer outra modalidade, que ela seja correta, como Concurso Público. Tem que ser correta, claro. Se não for correta, com certeza vai cancelar. Tanto é que na primeira vez foi cancelada. E ninguém questionou isso, até porque foi cancelada e foi feita agora novamente o Concurso Público aqui pela Prefeitura Municipal, a assessoria desta Casa, ela não foi exonerada por causa do Instituto, o Instituto, ele prega pela isonomia, pela igualdade de direitos de todos. E o que que é isso? Isso está na Constituição Federal, se eu não me engano, no artigo 37, ela diz que todos nós somos iguais, nós temos que disputar de que jeito? Através de Concurso Público.

E lá naquele artigo da Constituição Federal, diz que assessoria, cargo comissionado é pra direção e assessoramento e pra isso né, sugere, indica que seja de preferência servidor público concursado, então, não sou eu que estou dizendo, porque tão falando aí, que a Aurora é que mandou exonerar os cargos, não é, não é isso, eu acho que se tiver uma administração transparente, com lisura, ninguém ia ser exonerado de forma alguma. E o Instituto Ame, ele tem um propósito sim, é de garantir a transparência e se não tiver transparência, ele vai questionar sim, judicialmente ou não. Basta a nós respondermos, basta a nós provarmos. Então, essa é a função, o objetivo do Instituto. E eu também fico triste porque se nós tivéssemos uma administração transparente nada disso ia acontecer, né?

E quantos requerimentos nós pedimos aqui, agora não estou falando nem do legislativo, quantos requerimentos ao longo desses anos nós pedimos e foram negados, isso significa que tem alguma irregularidade, né? Então, sem sombra de dúvida, então é nesse sentido né... (Presidente interrompe a vereadora pelo decurso do tempo regimental).

[...]

Eu acho que a, a irritação de hoje valeu a pena, eu acho que valeu a pena, né? Então, vale para todos nós estarmos refletindo. Em relação à assessoria de Estado, ela tem, o Estado do Paraná ela tem um organograma, e dentro do organograma do Estado do Paraná, estão as Regionais da Saúde, da Educação, da Agricultura, é, do Trabalho, do IAP, enfim, tem uma estrutura formada pela Secretaria de Administração Previdenciária, e se nós investigarmos, vão verificar que todos os cargos estruturados nas secretarias são cargos de assessoramento, ou de direção.

Na Regional de Saúde onde eu trabalho, se vocês investigarem, a maioria são servidores públicos com cargos comissionados, a maioria, o que rege a Constituição Federal. Então, no nosso trabalho, não tem nada de irregular, nada, Pode investigar. E pode até encaminhar denúncia pra Ouvidoria do Estado. Porque a Ouvidoria do Estado do Paraná, ela recebe denúncia do Paraná inteiro, de todas as áreas. Ela recebe denúncia e consequentemente ela tem que provar parar aquela pessoa que denunciou, desde que a denúncia não seja anônima, tem que ser aberta, então, eu entendo assim, eu não estou dizendo que os assessores aqui são incompetentes ou não, quando eu digo igualdade, é em relação a população porque ela também queria trabalhar. Quantas pessoas queriam estar num ambiente público de trabalho, quantas pessoas... Se contar, nós temos poucos assessores aqui, e a população? E a maioria da população que não tem acesso a isso? De que jeito vai entrar?

É nesse sentido que eu venho aqui dizer e sempre falei isso e sempre digo e falo dentro da legislação, que a Constituição Federal rege isso, se todos nós seguirmos a legislação, tanto estadual, como federal, como a local, nós não tínhamos esses embates aqui, nós não tínhamos; é só seguir a legislação.

E nós temos que analisar, nosso trabalho aqui é analisar as leis, em cima disso nós temos coerência. Aqui foi falado também de doação de imóveis, esse ano eu já questionei isso, foram doados ou cedidos inúmeros imóveis, e eu questionava naquela época, não sei qual data da sessão eu questionava, mas qual o critério pra seleção dessas pessoas que querem imóvel? Será que é democrático? Eu lembro alguns meses atrás, quando entrou um projeto de lei de doação de imóvel, aqui nessa casa, e foi retirado. Mas por que? Que critério foi usado para retirar? E pra quem doou, tem critério político? Isso eu questiono. Então, assim tem numa das atas da reunião do CONDEI tinha uma senhora que pediu um imóvel. E ela foi contemplada? Eu acho que não. Então qual o critério? É esse o questionamento que a gente faz. Então, doação de imóvel...

Presidente: Uma parte um pouquinho, Vereadora.

Aurora: Já dou. Em torno de vinte e nove imóveis até agora. Quer dizer, um imóvel por mês. Um dia, numa sessão ordinária, o Vereador Vanildo que não está aqui, ele disse que já não tem mais terreno pra doar. Doação de imóvel é imóvel público, é do povo, é nosso, então tem que ter critério, tem que ter finalidade. E aqueles imóveis que foram doados, independente do ano, independente da administração que foi, se não obedecem aos critérios que estão sendo aprovados nesta casa, ou que estão sendo aprovados nesta casa, claro que tem que tomar providência, ele tem que ser devolvido para o município e assim dar o destino pras pessoas, que tem essa intenção de doar, então é nesse sentido que eu coloco. Então não vem alterando a voz, dizendo outras coisas não, né? Então em relação à assessoria é isso, não tem nada irregular.

Presidente: Só um apartezinho, Vereadora. Eu acho que como vereadora, se tem alguém que quer um terreno, a senhora deve pegar essa pessoa acompanhar, saber, a senhora é vereadora, a senhora tem esse direito. Entendeu? Porque tem lá o CONDEI, a justificativa ta todos os Vereadores.

Aurora: Só pra citar um exemplo: uma vez, há poucos meses atrás, teve um Projeto de Lei Complementar, que doação de terreno é lei complementar, aí procuraram Vossa Excelência aqui, disseram, essa pessoa me disse que tinha que me procurar, então tão dizendo que eu não quero doar os terrenos, eu questiono.

Presidente: Eu falei isso?

Aurora: A pessoa me falou isso.

Presidente: A senhora pode trazer essa pessoa na minha presença que, eu gostaria.

Aurora: Porque estão falando, tudo isso estão falando.

Presidente: Jamais eu faria isso.

Aurora: Assessoria exonerada sou eu, eu que sou a culpada. Eu não. Eu sigo o Regimento, eu sigo a legislação, nada mais do que isso, né? Então não vem dizer que a gente está atrapalhando não. Nós queremos a coisa certa. Não é jogar veneno pra ninguém, não. Queremos sim coisa certa, coisa dentro da legislação.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Baioneta não é voto e cachorro não é urna: um discurso de Ulysses Guimarães que fez história

JOSÉ PIRES, 30 de dezembro de 2009


Em maio de 1978, o deputado Ulysses Guimarães (1916-1992), presidente do Movimento Democrático Brasileiro, o MDB, partido da oposição que concentrava correntes políticas e ideológicas que combatiam a ditadura militar (os políticos aliados do regime estavam na Aliança renovadora Nacional, a Arena), realizava uma caravana por estados do Nordeste para estimular a votação popular nas eleições de 15 de novembro. As eleições eram para deputado federal e senador. Nesta época, além desses cargos eram eleitos pelo voto direto apenas deputados estaduais, vereadores e prefeitos, exceto os das capitais, que eram nomeados.

Assim como ocorria em vários estados, o presidente do MDB tinha sua presença hostilizada na Bahia, cujo governo era dominado pelo grupo de Antonio Carlos Magalhães (1927-20070 desde o golpe militar. Havia tropas-de-choque da polícia militar nas ruas e as provocações eram constantes.

Sob a liderança de Ulysses, a oposição vinha avançando gradativamente no mapa político do país, ocupando importantes espaços políticos a cada eleição. Ele havia recebido em 1971 o comando de um MDB com pouco peso político e eleitoral e, de forma persistente, fizera o partido conquistar prestígio e abalar a confiança e o poder do regime, de tal modo que no ano anterior a seu discurso, por meio de medidas autoritárias a ditadura havia determinado a nomeação de um senador em cada Estado. Estes senadores nomeados pelo governo passaram a ser conhecido como "senadores biônicos".

Em 1974, a oposição conquistou uma grande vitória eleitoral. Era a primeira desde 1964. Para o Senado o MDB obteve 14,5 milhões de votos contra 10 milhões da Arena. Neste ano se renovava um terço do Senado. Se fossem dois terços, a vitória teria dado ao MDB o controle da Casa.

Como poucos acreditavam nesta vitória, em alguns estados acabaram sendo eleitos políticos desconhecidos, porque emedebistas importantes não aceitaram as candidaturas. Foi o caso do Paraná, onde se elegeu o londrinense Leite Chaves. Em São Paulo, elegia-se o novato Orestes Quércia, até então um pouco conhecido prefeito de Campinas.

Em 1978 o MDB voltaria a derrotar o governo nas eleições para o Senado: 17,4 milhões contra 13,1 milhões.

O crescimento gradativo da oposição levava a retaliações variadas do regime militar e seus agregados. As reuniões do partido eram alvo de provocações e arbitrariedades em várias capitais. O clima de intimidação era, na maioria das vezes, criado pelos próprios governos estaduais, cujos governadores eram nomeados. As eleições diretas para governador viriam somente em 1982. Foi nesta situação de arbitrariedades que aconteceu o episódio da Bahia.

Com o crescimento do MDB, também adquiria cada vez mais prestígio um grupo de políticos que vinham sendo eleitos para a Câmara Federal desde 1970 e que se destacavam dentro do partido pelo perfil mais combativo. Era o grupo dos “autênticos”, assim chamados porque faziam oposição ao regime de maneira mais firme.

O avanço do MDB sob o comando de Ulysses Guimarães foi sem dúvida elemento político decisivo para a derrocada da ditadura militar. A chamada “oposição consentida” do partido acabou sendo usada de forma hábil para abrir canais expressivos de participação política dentro da sociedade civil.

A própria anticandidatura de Ulysses Guimarães à presidência da República contra Ernesto Geisel (1907-1996) em 1974 hoje pode ser vista como uma tática astuciosa da oposição para pregar pelo país afora de forma legal o fim da ditadura militar e a volta da democracia. Não esqueçamos que tínhamos então um país aterrorizado pela violência do governo Médici, que estava acabando. Ao mesmo tempo, o regime militar gozava de muita popularidade.

As ações de Ulysses e dirigentes emedebistas pelo país afora, como o exemplo da Bahia, onde ele fez o famoso discurso, foram fundamentais na construção do caminho que levou à abertura democrática e, posteriormente, as eleições diretas que encerrariam de vez o ciclo militar.

O discurso da Bahia é um dos símbolos maiores desta luta pela democracia. No dia 13 de maio de 1978 Ulysses e várias lideranças nacionais do MDB estavam no estado, onde aconteceu o incidente que fez o líder emedebista proferir a famosa frase. A data da libertação dos escravos evidentemente é apenas uma coincidência, encaixada depois no discurso de forma inteligente pelo emedebista.

Ulysses Guimarães e sua comitiva se dirigiam à sede local do MDB, quando policiais com cães tentaram impedir o acesso deles ao prédio do partido. Acompanhado de parlamentares e populares o dirigente do PMDB avançou em direção aos policiais armados. Empurrando um cano do fuzil de um soldado que barrava seu caminho, disse: “Respeitem o presidente da Oposição”.

Os soldados afastaram-se e a comitiva entrou na sede do partido, onde, de improviso, Ulysses Guimarães fez o discurso de onde saiu esta que é uma das frases mais famosas da República: “Baioneta não é voto e cachorro não é urna”.



O discurso de Ulysses Guimarães

Meus amigos que aqui estão,

Brasileiros que aqui não puderam vir e estão lá fora, mas que, apesar disso, em todo o Brasil, ouvem o pregão do MDB pela liberdade e pela democracia,

Soldados da minha pátria que foram aqui convocados — sei que contra a consciência de vocês, que são do povo — para impedir que o povo aqui chegassem. Mas vocês nos ouvem como assistência e são juízes de que quem defende vocês somos nós, porque a verdadeira autoridade não vem dos homens, vem da lei, que é igual para todos e não pode discriminar entre os brasileiros.

Meus prezados amigos,

Enquanto ouvíamos as vozes livres que aqui se pronunciaram, ouvíamos também o ladrar dos cães policiais lá fora. O que se falou aqui é a linguagem da História, da tradição, do passado, dos Tiradentes, dos cassados, em cuja frente está o exemplo extraordinário do líder sacrificado Alencar Furtado.

O ladrar, essa manifestação zoológica, é do arbítrio, da prepotência, que haveremos de vencer, não nós do MDB, mas o povo brasileiro.

Meus amigos, foi uma violência, foi, mas uma violência estúpida, inútil e imbecil. Eles nos ajudam e em muito. Se nós fizéssemos aqui um comício, seria um grande comício, não há dúvida, mas com uma repercussão talvez regional. Amanhã, ao amanhecer, os brasileiros vão ler os jornais, vão ver as metralhadoras e os cães, impedindo que brasileiros pacíficos exercitem um direito que está na Carta Universal dos Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário.

Nós não temos armas. Sou Presidente Nacional do MDB e já percorri este país oito vezes, de cidade em cidade, cercado pelas multidões. Não porto arma nenhuma (batendo no bolso e abrindo o paletó). Não tenho, meus amigos, protetores e guardas (gritos: "tem o povo", "tem a povo!"). Eu não me assusto mais, meus amigos. Tive em Pernambuco os cachorros e os cavalos do governador Moura Cavalcanti: luz apagada, pedras na praça quando realizávamos as nossas concentrações. Mas, meus amigos, o MDB, é como a clara: quanto mais bate, mais cresce. Os cães ladram mas a caravana passa.

Nós temos o povo que, sem dúvida alguma, nos levará à espetacular vitória de 15 de novembro próximo. Eu não levo, meus amigos, imagem melancólica da Bahia. A Bahia são vocês que estão aqui dentro. Aquilo que está lá fora para nos oprimir representa esta situação de arbítrio e de prepotência. Isso que está lá não é a Bahia, não é o Brasil, não é povo, não é a nação, não é sociedade, não é o cidadão.

Quero dizer a vocês: 13 de maio de 1888, então o Brasil evitou a divisão de dois Brasis - o Brasil branco que oprimia e o Brasil negro que era oprimido. Mas, quase 90 anos depois, nós temos as mesmas servidões e as mesmas discriminações. Não temos política neste país porque para haver política é preciso o povo e isso que aí está não tem a substância, o respaldo e o apoio do povo.

Temos um Presidente sem povo, temos governadores sem povo e contra o povo. E, por cúmulo de audácia, numa insólita demonstração de ousadia, que é um insulto a esta nação, criou-se esta figura que foi tatuada para a História com este nome odioso de senador "biônico". E nós estamos aqui para dizer que não será aceito isso!

Na cadeira de Rui Barbosa, que representou as tradições libertárias deste estado, não podem sentar os penetras indicados pela oligarquia e pelos conchavos entre amigos e parentes.

Vocês ouvem falar do achatamento salarial. Vocês já ouviram falar e de se tomar providência do achatamento dos lucros criminosos que fazem a opulência de poucos e enchem as burras e as arcas das multinacionais, fazendo com que tenhamos uma sangria às avessas, o sangue e o suor dos trabalhadores para enriquecer outras pátrias, outros países?

Muitas vezes se pergunta: o que o MDB pode fazer pelo povo? Eu quero sintetizar essa resposta. O MDB não é munificente, o MDB não é patriarcal, o MDB não quer presentear com alguma dádiva _ porque se desse, poderia também tirar. O MDB quer dar uma arma. O povo brasileiro está desarmado da grande arma pela qual ele defende o seu pão, o seu teto, a saúde e a sobrevivência da sua família. O MDB quer dar a urna e o voto a todos os brasileiros. Não há salário justo e digno. É impossível salário digno e justo sem liberdade, porque já dizia a Bíblia que "ganharás o teu pão com o suor de teu rosto". Para ganhar o pão não é preciso só o trabalho físico e intelectual, é também reivindicar, é exigir da sociedade as vantagens econômicas para todos e não em benefício de poucos. Não há, portanto, salários justos e não existe divisão, distribuição de riquezas, sem a democracia e sem a liberdade.

Meus amigos, a discriminação, este anátema que envergonha a cultura e a educação brasileira: o 477, um dos filhos diletos do nefando AI-5. Nós do PMDB sabemos que escola e faculdade são para dar o diploma, mas somente o caráter é que faz o homem. E o jovem, sem liberdade e democracia, não será homem para servir a si, aos seus e à sociedade.

A inexistência do habeas corpus é testemunha de que há injustiça, ilegalidade, arbítrio, nesta nação.

Aqui, queremos lembrar os nossos mártires, os que caíram, com a canção da resistência francesa: companheiro, se você tombar, alguém sairá da sombra para tomar o seu lugar.

Mesmo que tenhamos divergências naturais, é preciso que nos unamos numa trincheira comum. Há um inimigo comum, um adversário comum. São aqueles que se apropriaram do poder e só através de nossa união é que poderemos reconciliar esta nação.

A data de 13 de maio é a data limpa, asseada, decente e branca da liberdade neste pais. Quiseram mas não conseguiram aqui na Bahia, que a data da liberdade fosse manchada e enodoada com o espetáculo de opressão que aqui se montou para espanto de todo o Brasil. Mas, meus amigos, aguardamos e lutamos por outra Lei Áurea, por outro 13 de maio: pela libertação. Esta libertação será no dia que está próximo e que tem este nome: Assembléia Nacional Constituinte.

E a Assembléia Nacional Constituinte só pode ser feita na base da honra, da dignidade, do dever de reparação àqueles que tombaram no sangue e no sacrifício. A base para isso é esse nome de paz e de esperança para o Brasil e seus filhos: Anistia.

Baianos, marchemos para a vitória a 15 de novembro. Baioneta não é voto e cachorro não é urna.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Mensagens de apoio à vereadora Aurora Fumie Doi na Rádio Cornélio

fabiano / Para: amauri
em 14/12/2009 às 10:27
se não fosse,está (ame),e a competente Dr;Claudia,e Advogado,DR:vicente,as coisas tarião pior em nossa cidade,ainda bem que tem está entidade,e estes advogados,,em defesa de cornelio,porque a camara de vereadores é uma vergonha,só se salva a vereadora aurora que vale por todos.

Carlos-II / Para: D:, claudia
em 13/12/2009 às 17:44
sempre assim, corretá e justá a verdade sempre vence a mentira,vocês e (AME),tão correto na fiscalização,porque tirando a vereadora Aurora,que faz o verdadeiro papel de vereador,o restó ,faz papel de asessor,segue a cartilha do Prefeito,diz amen a tudo e povo que se lasca.só uma lenbrancinha teremos mais eleição ,se o povo esquecer vamos lembrar,dos episodios ,como as farras das diaria,abra o olho vereadores.

angelo / Para: amauri
em 13/12/2009 às 10:33
vereadora aurora ,não temque se preucupar com estes vereadores,das farras da Diarias não ele estão é encomodado com o Belo trabalho d Vereadora Aurora,eles não tem competençia para julgar niguem,

Aparecida Guimarães / Para: Amauri
em 11/12/2009 às 07:18
gostaria de falar a todos que estão criticando a Aurora e que apoiaram o prefeito Amim, principalmente o vereador Edimar , faço-lhe a seguinte pergunta o senhor chamou o Dr Jose Antonio de chefe de quadrilha, o que o senhor me diz por exemplo do ex vice prefeito, preso por roubo, comprovado passou na tv todos viram, e olha quando um rico vai preso no Brasil e porque esgotaram todos os limites de chances, porque neste pais infelizmente so pobres são presos, gostaria que o senhor vereador edimar me explicasse isso, faça como a vereadora Aurora vereador trabalhe como ela siga-lhe seus exemplos, que nunca agrediu ninguem ....

olho vivo-III / Para: amauri
em 11/12/2009 às 00:31
não é decoro parlamentar o tiaozinho vereador,ficar tomando café na sala da imprensa,enquanto a vereadora Aurora,estáva lendo,questionando,e fazendo imenda no orçamento para 2010,não tava nem ai deveria prestar atenção porque se tratava de orçamento para atender a população,no qual elegeu ele e os demais,istó sim é quebra de decoro,abre olho eleitor estes tem que encerrar suas carreiras não pensa nunca no povo.

Maria Célia / Para: Amauri
em 10/12/2009 às 11:07
Amauri,fui na câmara,na ultima terça e fiquei impresionada com o apoio da sociedade à Vereadora Aurora.A única coisa que me instiga é que poucos amigos PMDbistas estiverão presentes.

tom / Para: amauri
em 09/12/2009 às 12:45
amauri, ontem a vereadora aurora deu um banha de politica nos outros vereadores, tambem o executivo ta preocupado com londrina rsrsrs

Ana / Para: Amauri
em 09/12/2009 às 10:55
Amauri,parabéns pelo seu excelente trabalho frente a Imprensa,pois outra Emissoras estão deixando a desejar.Como voce pode ouvir ontem pessoalmente grande parte da sessão realizada,ficou muito clara para todos ,qual o papel desenpenhado pela nossa sem dúvida nenhuma grandiosa Vereadora Aurora,que mais uma vez destacou quais serão os beneficiados e os não favorecidos em 2010.Sendo assim provando mais uma vez o seu caráter ,ética e moral perante a população que ali se encontrava.Agradeço por ter uma representante desse nível.

observador-II / Para: fala cidade
em 09/12/2009 às 08:24
fpio dado um sinal de alertá ontem na Camara de Vereadores , referente a base do Prefeito ,algumas pessoas se Preparam para um grnde combate em defesa da vereadora Aurora asim que se formar a comição prosseçante,muitos vão perder neste confronto principalmentes os que tem telhado de vidro,você Aurora nunca vai tar sozinha.

Antonio Marcos / Para: Vereaores da Situação
em 08/12/2009 às 13:42
Meus caros vereadores da Situação, cassar a vereadora Aurora é uma afronta a inteligencia e um ato contra a ética.

Ana Paula II / Para: Amauri
em 08/12/2009 às 13:05
Estão querendo fazer a inversão dos papeis. A vereadora Aurora é o simbolo da ética e honestidade daquela casa. Cassar a mesma é achar que o povo é burro.

mariana felix / Para: aurora
em 08/12/2009 às 10:35
estamos com vocês vai dar tudo certó estes vereadores que faz da Politica uma profissão,tem seus dias contado na proxima vamos dar o troco e reelembrar os assuntos ,como os camarão e as farras das diarias e muito mais.

amadeu / Para: amauri
em 08/12/2009 às 09:41
aho que todos teriam que ir a camara hoje em apoio a vereadora aurora, com protestó contra os lobos mão da situação.

Procopense indignado / Para: amauri
em 06/12/2009 às 21:35
Estudar a possibilidade de convidar o Luis Amancio, para uma entrevista ao vivo, para saber porque ele esta pedindo a cassação da nossa melhor vereadora.
Ele tem que dizer porque fez isto ou quem mandou.

carlos / Para: amauri
em 06/12/2009 às 17:10
estes vereadores é brincadeira,não tem mais que fazer em vez de pegar no pé da vereadora aurora.

AMADEU / Para: GUSTAVO
em 03/12/2009 às 16:50
NÃO JULGUE O CARLINHO DO CREIA ASSIM ELE TEM SEUS MOTIVO,SUA FILHA É ASESSORA DA DEFENSORIA RÚBLICA,DEPARTAMENTO QUE NEM FUNCIONA SÓ TÁ ABERTO PARA SEGURAR O CARGO DA FILHA DO AMANÇIO,FOI POR UMA BOA CAUSA NÃO SEJA MALDOZO GUSTAVO.

Henrique / Para: Odair matias
em 03/12/2009 às 12:42
parabens amauri pelo odair matias você tão com uma equipe de peso, agora bota fogo no carvâo,outro assunto força Vereadora Aurora eles não sabe que estão fazendo,mais Deus tá com você.

Antonio Carlos / Para: Amauri
em 03/12/2009 às 12:08
Amauri, essa de cassar a Aurora é tática para que a mesma entre no jogo sujo deles (demais vereadores), vão cassar nada, não possuem moral para isso é so recordar o passado de cada um, sem dizer o presente.

AMADEU / Para: AMAURI
em 03/12/2009 às 10:21
QUEREM ENVERTER A AS COISAS EM CORNELIO,OS BOM,PASSA SER MAL OS MAL PASSA SER BOM SÓ PODIA,TOU FALANDO DOS VEREADORES.

CIRILO / Para: FALA CIDADE
em 03/12/2009 às 10:18
VOCÊS VEREADORES TODOS NÃO SERVE NEM PARA LAVAR OS PÈS DAS VEREADORA AURO,ELA E 10,VÃO PROCURAR OQUE FAZER ,DEIXA A MULHER TRABALHAR.

procopense / Para: amauri
em 02/12/2009 às 21:10
amauri, se a vereadora aurora for cassada eu desço a av. 15 PELADO, não tem projetos para esses vereadores analisarem, porque isso é coisa de quem não tem nada para fazer, eles esqueceram que o suplente da aurora é o coronel pereira, não adianta se isso acontecer que eu acredito que nunca acontece, sai uma pessoa ética super honesta e entra outro com a mesma característica dela.

maria célia / Para: amauri
em 02/12/2009 às 17:49
Amauri,Aurora Fumie Doi é uma verdadeira combatente da causa pública. é por isso que está incomodando esses vereadores. Nós moradores do Jardim Primavera estamos solidarios e dando todo o nosso apoio a essa guerreira que nos está representando com muita garra e honestidade ,porque os outros sem comentários,uma vergonha....

Marcão / Para: EDMAR GOMES
em 02/12/2009 às 11:02
Edmar você não tem condiç~es de falar de cassar niguem você não é um exemplo de credibilidade para falar sobre está vereadora que vocês deveria pedir a ela palestra sobre transparençia,quem sabe dai vocês fazem as coisas corretá na nossa amara de Vereadores,a Aurora sim é um exemplo de vereadora,

carlos / Para: Amauri
em 02/12/2009 às 10:45
quem são vocês para tocar no nome da vereadora Aurora,que moral vc tem ,cujo vc que já teve envolvimento no epizodio dos camarão,a ver aurora nunca usou um centavo do dinheiro publico,ela é transparente e Honestá,vocês não são as pessoas adquada para falar da nobre vereadora se fala em cima de prova,não vão fujir do foco não,das farras da Diarias que vc cometaram usando dinheiro publico o povo tá de olho.

Servidor,Publico. / Para: fala cidade
em 02/12/2009 às 08:17
Quando é que vocês vereadores,tem capacidade e moral para julgar a Vereadora aurora,vocês sim não deveria nem ser vereador não são apto a cargo que tem ,claro mais como vocês tem dinheiro ... ,para sentar numa cadeira aonde só os nobres deveria sentar que é o caso da Vereadora Aurora,honesta,corretá,justá,tamos com você vereadora, o mal nunca vence o Bem.

PARA VOLTAR AO BLOG DO INSTITUTO AME CIDADE CLIQUE AQUI

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Material publicado sobre o caso das diárias de vereadores da Câmara Municipal de Cornélio Procópio no blog do Instituto Ame Cidade

Instituto Ame Cidade denuncia ao Ministério Público suspeita de irregularidades no pagamento de diárias para vereadores de Cornélio Procópio

INSTITUTO AME CIDADE, 17 de novembro de 2009

O Instituto Ame Cidade descobriu indícios de graves irregularidades na prestação de contas de despesas com diárias da Câmara Municipal de Cornélio Procópio, Paraná. As diárias são destinadas ao pagamento de hospedagem e alimentação de servidores e vereadores em missão oficial do Legislativo, participação em cursos e treinamentos.

A suspeita de irregularidades envolve o nome de três vereadores e surgiu a partir da análise de documentos recebidos pelo Instituto Ame Cidade depois da solicitação de informações junto à Câmara. Os dados levantados fazem crer que foram concedidas e pagas diárias em datas em que os vereadores estavam no município.

A pesquisa cobre apenas o período de janeiro a agosto de 2009, tomando por base os relatórios contábeis com as despesas de diárias e cópias das solicitações de viagem e dos relatórios de viagens de cada um dos beneficiados com diárias no período citado.

Comparando esses dados com outros documentos oficiais, foi possível descobrir que os vereadores Edimar Gomes Filho (PPS), Sebastião Angelino Ramos (PTB) e Vanildo Felipe Sotero (PR) receberam diárias para viagens a Curitiba em datas em que constam como presentes em reuniões daquela Casa.

O Instituto Ame Cidade está entrando hoje no Ministério Público com um pedido de investigação. Caso sejam comprovadas irregularidades a conseqüência deve ser uma Ação Civil Pública de Improbidade Administrativa contra os implicados.

Na representação, o Instituto Ame Cidade também pede ao Ministério Público que a denúncia seja encaminhada ao Tribunal de Contas do Paraná.

Além dos vereadores citados, o pedido de investigação atinge também o presidente da Câmara, Helvécio Alves Badaró, responsável pela autorização do pagamento das diárias. No período ao qual o Instituto Ame Cidade teve acesso, Badaró recebeu no total R$ 7.572,94 em diárias.

Caso sejam comprovadas irregularidades nos gastos, entre outras penalidades os quatro vereadores podem até perder os mandatos por falta de decoro.

Na representação ao MP o Instituto Ame Cidade apresenta documentação da própria Câmara Municipal que confirma a presença dos vereadores em sessões legislativas na mesma data em que eles deveriam estar em Curitiba, conforme está descrito no pedido de diárias. A distância entre Cornélio Procópio e a capital é de 398 quilômetros. As sessões ordinárias da Câmara acontecem nas terças-feiras, com início às 20 horas.

Na confrontação entre os documentos de solicitação de diárias e as atas de sessões da Câmara existem até datas em que o vereador recebeu dinheiro de hospedagem e alimentação destinado à estadia em Curitiba quando, segundo a ata, no mesmo dia estava presente à sessão legislativa em Cornélio Procópio onde secretariava a reunião.

O vereador Edimar Gomes Filho (PPS) recebeu três diárias para viagem à Curitiba no período de 15 a 17 de fevereiro deste ano, saindo às 10 horas da manhã de Cornélio Procópio e voltando da capital às 18 horas. De acordo com as atas oficiais da Câmara, o vereador secretariou duas reuniões no dia 17, uma delas extraordinária. Neste caso, ainda que o vereador tivesse garantido sua presença com um esforço extraordinário, ele acabou recebendo todas as diárias. O total foi de 500,00 reais.

Outro episódio em que o vereador é citado em ata secretariando a sessão legislativa no mesmo dia em que garante em outro documento ter viajado para Curitiba acontece entre os dias 25 e 27 de agosto. Na solicitação de viagem a saída está marcada para as 14 horas do dia 25. Na mesma data seu nome aparece em ata secretariando a reunião ordinária e também a extraordinária. Ele recebeu 600 reais de diárias de viagem.

Edimar Gomes Filho recebeu entre janeiro e agosto deste ano um total de R$ 6.880,00 em diárias.

Outro vereador cujo nome aparece secretariando sessões na mesma data em que declarou estar presente em Curitiba é Vanildo Felipe Sotero (PR). Sua solicitação de viagem é de 25 a 27 de março, saindo às 8 horas e retornando às 18 horas. Ele solicitou três diárias, um total de 600 reais, que foi pago.

No entanto, em 26 de março foi realizada sessão extraordinária e o vereador estava presente. No dia 27 de março houve mais uma sessão extraordinária e novamente o vereador estava presente e até secretariou a reunião.

E esta não é a única situação com este tipo de contradição envolvendo o vereador. Em outra solicitação de viagem, saindo às 14 horas do dia 3 de agosto e voltando no dia 5 do mesmo mês às 15 horas, também surge a mesma estranha coincidência.

No dia 4 de agosto teve sessão extraordinária na Câmara e o vereador consta como estando presente e secretariando a reunião. No dia 5 teve mais uma sessão extraordinária e lá está de novo registrado em ata a presença de Vanildo Felipe Sotero e também secretariando.

Ele recebeu 800 reais, quantia relativa a três diárias de viagem para Curitiba. No total, entre janeiro e agosto, Vanildo Sotero recebeu de diárias R$ 3.500,00.

Já o vereador Sebastião Angelino Ramos assinou solicitação de viagem à Curitiba com saída às 9 horas do dia 12 de agosto e retorno no dia 14 do mesmo mês às 11h. Pediu duas diárias no total de 600 reais e recebeu.

No dia 13 teve sessão extraordinária em Cornélio Procópio, com a ausência do vereador registrada em ata. Já no dia 14, ele tem a presença registrada em ata em outra sessão extraordinária. Acontece que esta sessão ocorreu às 9 horas e sua previsão de retorno é para 11 horas. Neste caso, ele até confirmou a data do retorno em solicitação de reembolso extra de 55 reais para transporte e locomoção.

Este vereador tem também outra solicitação de viagem que entra em contradição com as atas da Câmara. A saída para Curitiba é prevista para as 14 horas do dia 25 de agosto e o retorno para o dia 27 às 18 horas. Ele recebeu 600 reais relativos a duas diárias.

Ocorre que no dia 25 de agosto teve sessão ordinária e sessão extraordinária. E o vereador é citado em ata como estando presente às duas reuniões.

O petebista Sebastião Angelino Ramos foi o vereador que mais recebeu diárias no período analisado. Seu total foi de R$ 9.545,00.

Além dessas irregularidades apontadas pelo Instituto Ame Cidade, é possível constatar que a Câmara Municipal vem concedendo um número bem alto de diárias. Apenas no período citado o gasto total, englobando o ressarcimento de despesas, foi de R$ 65.704,24. Existem também denúncias de que este procedimento estaria sendo usado de forma indevida, o que exigiria outras investigações.


Os documentos citados estão publicados em fac-símile em nossa página no site Flickr, como pode ser visto nos links dispostos ao longo do texto. Para ver todas as pastas, siga para a página clicando aqui.


Vocabulário político

ONIPRESENTE: O dicionário ensina que "onipresente" é o que "está presente em todas as partes" e remete para o fenômeno da ubiquidade: que está ao mesmo tempo em toda a parte. As raízes cristãs do brasileiro facilitam bastante a compreensão da palavra, pois Deus é onipresente.

Esta capacidade, portanto, não é humana. Ninguém pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Nem se for vereador.


Diárias de vereadores causam revolta. Pedidos de viagem eram para reuniões na Assembleia com o deputado Romanelli

INSTITUTO AME CIDADE, 19 de novembro de 2009

A suspeita de irregularidades levantada pelo Instituto Ame Cidade em prestações de contas de diárias de viagem para vereadores da Câmara Municipal de Cornélio Procópio, Paraná, causou muita indignação não só entre os procopenses, mas também em toda a região.

Estudando documentos obtidos junto à Câmara por meio de pedido oficial de informações, o Instituto Ame Cidade descobriu que os vereadores Edimar Gomes Filho (PPS), Sebastião Angelino Ramos (PTB) e Vanildo Felipe Sotero (PR) receberam diárias para viagens a Curitiba em datas em que constam como presentes em reuniões daquela Casa.

De posse desses documentos, foi dada a entrada junto ao Ministério Público de um pedido de investigação. O Instituto Ame Cidade solicitou também ao MP que a denúncia seja encaminhada ao Tribunal de Contas do Paraná.

O pedido de investigação atinge também o presidente da Câmara, Helvécio Alves Badaró (PTB), responsável pela autorização do pagamento das diárias. Se forem comprovadas irregularidades nos gastos os quatro vereadores podem até perder os mandatos por falta de decoro.

A notícia sobre o escândalo foi transmitida em rádios e televisões de Londrina e repercutiu na internet, sendo publicada em sites e blogs dos mais variados.

Houve muito espanto com o montante gasto em diárias (de janeiro a agosto foi de R$ 65.704,24) e também com as altas quantias gastas por alguns vereadores. Somando-se as diárias do período recebidas pelos vereadores citados na representação junto ao MP chega-se a mais de 27 mil reais.

Jornalistas londrinenses que procuraram mais informações junto ao Instituto Ame Cidade disseram que os números seriam escandalosos mesmo numa cidade de maior porte e orçamento superior, como Londrina ou Maringá.

As pessoas se revoltaram não só com o possível desvio de dinheiro, mas também com a própria existência das diárias, um recurso francamente dispensável para ao pleno exercício da função do vereador procopense, como também abusivo nesta época de crise econômica que atinge todos os municípios. Falta dinheiro em todos os municípios da região até para questões básicas de saúde, educação, segurança e tantas outras necessidades. O próprio prefeito alega falta de verbas até para recapear as ruas de Cornélio Procópio que estão tomadas por buracos.

Nos pedidos de diárias que aparentam irregularidades, a cidade de destino dos vereadores é sempre Curitiba e a maioria das justificativas é tratar de assuntos na Assembleia Legislativa. O deputado estadual procurado pelos suspeitos é sempre Luiz Romanelli, que é do PMDB, mas que em Cornélio Procópio age como se fosse da bancada do prefeito Amin Hannouche, que é do PP.

Ora, como o deputado Romanelli está sempre em Cornélio Procópio, não há justificativa lógica para qualquer vereador gastar dinheiro público para reunir-se com ele em Curitiba.

Outra questão importante relativa às diárias é que elas tiveram um aumento autorizado pelo prefeito Amin Hannouche no dia 11 de fevereiro deste ano. O aumento — que na súmula é tratado como “concessão de diárias” — foi votado em duas sessões, no dia 10 e 11 de fevereiro e sancionado pelo prefeito, com uma rapidez notável, no mesmo dia em que foi aprovada pela Câmara. O único voto contrário foi da vereadora Aurora Fumie Doi, do PMDB.


Reunião demorada

Apenas para exemplificar que mesmo que não esteja ocorrendo nenhuma ilegalidade nos gastos com diárias na Câmara Municipal de Cornélio Procópio, existe um grave descuido com o uso do dinheiro do contribuinte, vamos pegar o exemplo documentado de uma viagem à Curitiba.

O vereador Vanildo Felipe Sotero (PR) assinou uma solicitação de diárias para uma viagem que teria sido feita no período de 25 a 27 de março. As datas estão em contradição com o que atestam as atas da Câmara, que afirmam que no dia 26 de março ele estava em Cornélio Procópio em sessão extraordinária. Já em 27 de março teve outra sessão extraordinária, secretariada por ele.

Mas fiquemos só na suposta viagem para Curitiba. A justificativa da viagem, para a qual o vereador recebeu três diárias, é uma reunião com o deputado Luiz Romanelli (PMDB).


Viagens de vereadores de Cornélio Procópio pagas com o dinheiro do contribuinte são excessivas e fora de propósito

INSTITUTO AME CIDADE, 20 de novembro de 2009


Recordar é viver. E, junto com isso, também é um avivamento da consciência. Nada melhor para ativar a discussão da ética e do bom uso do dinheiro público. Na análise que o Instituto Ame Cidade continua fazendo sobre os gastos na Câmara surgem fatos que atestam um grave desequilíbrio nos gastos públicos municipais.

No dia 6 de julho deste ano uma caravana chefiada pelo prefeito Amin Hannouche e composta de quatro vereadores esteve em Curitiba. Fizeram parte os vereadores Helvécio Alves Badaró (PTB), Sebastião Angelino Ramos (PTB), Sebastião Cristóvão da Silva (PP) e Edimar Gomes Filho (PPS).

A justificativa foi de que viajaram em busca de “recursos para as devidas para melhorias no município”, palavras deles que, por isso, vão devidamente aspadas. Também manteremos na condicional algumas descrições, já que a comparação entre as datas das ações expressas nos documentos mostra que para haver veracidade seria exigido que os vereadores fossem onipresentes. Mas esta qualidade só é concedida à Deus.

Em primeiro lugar, isso de "buscar recursos na capital do Estado" é um claro estratagema para ocultar do eleitor a falta com os deveres básicos do parlamentar: legislar e fiscalizar o executivo, com o acompanhamento de todas as etapas de obras e da manutenção dos serviços no município. É para isso que um vereador é eleito, o resto é balela, tentativa de confundir a opinião pública.

Vereador não traz recurso algum para o município e isso não diminui em nada seu papel público. Simplesmente esta não é sua função. Não existe em nenhuma parte da legislação algo que dê sustentação a essa demagogia. Portanto, para que um vereador transite pela capital do Estado e volte com a mala estufada de verbas para o município ele só pode contar com sua simpatia, uma qualidade até bem-vinda, mas que não serve para convencer de qualquer coisa o governador Requião ou seus secretários.

Mas é evidente que esta viagem teve um custo para o contribuinte procopense. Três dos quatro vereadores que participaram da caravana são citados na representação do Instituto Ame Cidade junto ao Ministério Público pedindo investigação sobre supostas irregularidades em diárias pagas pela Câmara. Um deles, Sebastião Angelino Ramos (PTB), é um grande consumidor de diárias. No período de janeiro a agosto foi o que mais recebeu, totalizando R$ 9.545,00. No mesmo período, Helvécio Badaró recebeu R$ 7.572,94, Edimar Gomes Filho recebeu R$ 6.880,00 e Vanildo Sotero recebeu R$ 3.500,00.

Um fato que chama a atenção é que a viagem para Curitiba com o prefeito foi no dia 6 de julho. Pois no mês seguinte dois vereadores garantem que viajaram novamente para a capital.

O vereador Edimar Gomes Filho (PPS) assinou documento afirmando que esteve lá entre os dias 25 e 27 de agosto. Na mesma data seu nome aparece em ata secretariando a reunião ordinária e também a extraordinária. Ele recebeu 600 reais de diárias de viagem.

Outro participante da caravana que teria viajado para Curitiba no mês seguinte foi Sebastião Angelino Ramos. Ele teria ido no dia 12 de agosto e retornado no dia 14 do mesmo mês. O vereador assinou também assinou documento afirmando que fez outra viagem à Curitiba no mesmo mês, entre os dias 25 e 27. Há uma contradição com sua presença em sessão da Câmara, como mostra a documentação entregue ao MP pelo Instituto Ame Cidade e que o leitor pode ver aqui.

Existem muitas dúvidas sobre a razão dessas supostas viagens. O Ministério Público deve fazer a investigação para apurar se houve realmente alguma irregularidade.

Mas, supondo que não haja desvio de dinheiro público, uma certeza que se impõe é que existe no mínimo um desrespeito com o uso do dinheiro do contribuinte. A agenda dos vereadores citados parece bastante desorganizada. O controle de gastos na Câmara também aparenta ser ineficiente. E a transparência inexiste.

Os vereadores viajaram em julho com o prefeito para Curitiba e depois ainda teriam voltado em agosto, um deles por duas vezes. Uma boa pergunta é por que não aproveitaram a estadia em julho para resolver seus hipotéticos assuntos.

E temos também outra pergunta, que já traz embutida a resposta: se o dinheiro das diárias saísse de seus bolsos, estes vereadores fariam este monte de supostas viagens? É claro que não. Se fosse assim, mesmo que existisse realmente a necessidade de se deslocar para qualquer outra cidade, certamente o vereador procuraria se organizar melhor para equilibrar os custos.

Enfim, agiriam como todos os cidadãos fazem com a administração de seus próprios gastos. A diferença neste caso é que o contribuinte não usa o dinheiro público para viajar.


Sobre democracia e o respeito à participação da sociedade civil

INSTITUTO AME CIDADE, 24 de novembro de 2009


Em vez de responder com seriedade sobre as questões levantadas pelo Instituto Ame Cidade em relação às diárias pagas a vereadores na Câmara Municipal de Cornélio Procópio, seu presidente, Helvécio Alves Badaró (PTB), tem seguido a linha de sempre, numa tentativa inútil de desqualificar o trabalho da organização com uma estranha argumentação, que tem se repetido nas entrevistas em que o assunto é tratado.

Badaró diz que o Instituto Ame Cidade é composto “por pessoas que perderam as eleições”. É evidente que o vereador petebista pretende com isso desviar a atenção das suspeitas de irregularidades que foram encaminhadas para o Ministério Público. Mas este estranho argumento merece umas considerações.

É de se perguntar ao vereador Badaró em que situação ele pretende enquadrar as pessoas que, pertencendo ou não a um partido, não conseguiram se eleger ou não elegeram seus candidatos nas últimas eleições. Em números eleitorais, em Cornélio Procópio foi mais de 60% do eleitorado.

O Brasil é um país democrático, onde são disputadas eleições para cargos públicos de dois em dois anos, sem falar nas disputas em instituições da sociedade civil ou organizações privadas. Como em nosso país existe liberdade de opinião, nada mais lógico que as pessoas que perdem uma eleição mantenham sua visão crítica e se coloquem numa posição de vigilância em relação aos atos públicos dos dirigentes eleitos, exigindo honestidade e transparência na condução dos negócios públicos.

Aliás, é assim que ocorre não só aqui em nosso país, pelo menos depois do final da Ditadura Militar em 1985, mas em qualquer lugar onde haja democracia.

Nossa democracia não só permite a atividade política da sociedade civil, como até busca estimular esta participação como um elemento que traz qualidade a nossa vida política. É assim que se busca a transparência e também a valorização da ética.

Organizações como o Instituto Ame Cidade são parte de uma importante e recente conquista social ocorrida no Brasil, com a crescente participação dos cidadãos em assuntos da esfera pública.

É provável que o vereador Badaró já tenha ouvido falar em “exercício da cidadania”. Pois é isso que fazemos em Cornélio Procópio e no Paraná. Por isso, é bastante estranho que um representante do poder Legislativo venha tentar desclassificar um trabalho tão importante com um argumento tão baixo, como se a participação política fosse privilégio apenas daqueles que conquistam o poder.

Se o Brasil se guiasse do modo pretendido pelo vereador quer, seriam inumeráveis as personalidades públicas que se veriam caladas pelo fato de terem perdido uma ou outra eleição.

Numa democracia não se faz assim. Isso é coisa de regimes totalitários, como o Nazismo de Adolf Hitler ou o Comunismo de Josef Stálin, mas queremos acreditar que o vereador talvez não tivesse a intenção de chegar a um nível tão baixo.

Mas se é para falar em perder eleições e manter-se em atividade sem perder o senso crítico, podemos dar ao presidente da Câmara breves informações históricas, até para que ele perceba que suas argumentações são objeto de riso de quem as ouve.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso perdeu duas eleições muito importantes. Em 1985 foi derrotado para a prefeitura de São Paulo por Jânio Quadros (1917-1992). Antes, em 1978, havia perdido uma eleição para o Senado. Depois, como todos sabem, foi eleito presidente da República duas vezes, vencendo todos os adversários, inclusive Lula, no primeiro turno.

O próprio Lula, além de perder duas vezes para FHC no primeiro turno, já havia sido derrotado antes por Fernando Collor. Lula, é claro, acabou vencendo depois duas eleições para presidente da República, cargo que ocupa atualmente.

Outro notável perdedor de eleição foi o presidente Abraham Lincoln (1809-1865), um político sem o qual hoje em dia não existiriam os Estados Unidos, país governado por ele na segunda metade do século 19, e a quem devemos também em grande parte, sem dúvida, o atual modelo da democracia ocidental adotado inclusive no Brasil.

Abraham Lincoln foi o criador da expressão “governo do povo, pelo povo e para o povo”, dita por ele um dos discursos mais importantes da história mundial, um tipo de governo pelo qual ele lutou e que na época desejou que “não mais desapareça da face da Terra”.

Lincoln perdeu várias eleições, inclusive uma para o Senado em 1858, dois anos antes de ser eleito presidente dos Estados Unidos.

Exemplos como esses lotam as páginas das histórias, já que na democracia não se lança qualquer descrédito nos que perdem esta ou aquela eleição. Isso é parte do jogo democrático, em conjunto com outras regras, como a ética e a transparência, que deveriam ser respeitadas pelos eleitos.

Aliás, entre os nomes citados acima está o de Jânio Quadros, conhecido por não perder eleições. Ao contrário, teve carreira meteórica, de vereador a presidente da República, vencendo no final da vida a eleição para prefeito de São Paulo em 1985 pelo mesmo PTB do vereador Badaró. E ele sempre foi um desastre. Renunciou à presidência da República e lançou o país em 1961 em uma de suas piores crises e saiu da prefeitura de São Paulo acusado pela própria filha de ter dinheiro roubado na Suiça.

Em política, perder eleição não é defeito algum. O que é lamentável mesmo em política é perder a vergonha.


Sobre enganações que não devem durar

Falemos mais de Abraham Lincoln, o presidente que dirigiu os Estados Unidos no período em que aquele país se definiu como Nação. Lincoln foi um estadista respeitável e deveria ser lembrado mais vezes, especialmente nestes tempos em que qualidades como as dele — inteligência, retidão de caráter, capacidade de trabalho, sobriedade, senso de democracia — andam em falta em nossa política.

Ele simboliza a política feita com objetividade e que traz resultados de qualidade, a política sem a lorota e a enganação que acabam por afastar as pessoas de bem dos assuntos públicos e atrasar a História de qualquer país.

Lincoln foi um grande criador de expressões definidoras de um caminho de qualidade para a política. O já citado "governo do povo, pelo povo e para o povo" vem de um importante discurso seu, proferido na inauguração do Cemitério Nacional de Gettysburg, em novembro de 1863, onde quatro meses antes se deu uma batalha decisiva, no combate com o maior numero de vítimas na Guerra Civil e com resultado favorável à unificação dos Estados Unidos.

É um discurso curto e tornou-se o mais famoso da história daquele país. Em menos de três minutos, Lincoln definiu a igualdade e a importância da unidade para a preservação da democracia e do bem comum.

O que Lincoln fez foi eliminar a pomposidade dos discursos políticos e investir em uma linguagem direta. Ele tem outros escritos políticos, todos de alto valor literário. E com isso transformou não só a política ocidental. Ele ocupa um papel destacado na modernização da língua inglesa, que levou a escritores como Mark Twain e Ernest Hemingway e, por influência dessa literatura no mundo, transformou também outras línguas.

Com já dissemos, Lincoln é um criador de ótimas expressões. E sobre o que vem acontecendo em Cornélio Procópio, tem uma frase dele que explica bem uma situação que com certeza não há de perdurar: "Pode-se enganar todas as pessoas durante algum tempo; pode-se até enganar algumas pessoas durante o tempo todo; mas não é possível enganar todas as pessoas durante o tempo todo".

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

I Seminário Técnico do Trem Pé-Vermelho

A reativação do trem de passageiros no eixo ferroviário Londrina-Maringá, entre os municípios de Ibiporã, no Norte do Estado, e Paiçandu, no Noroeste, será o tema do “I Seminário Técnico do Trem Pé-Vermelho”, que acontece nesta sexta-feira (6), em Londrina. A coordenação do evento é da Ferroeste. Leia mais no Blog do Instituto Amecidade



PROGRAMAÇÃO DO SEMINÁRIO

8h – Credenciamento
8h45 – Solenidade de Abertura
9h – Perfil Sócio Econômico do Eixo Londrina - Maringá
• Ana Lucia Rodrigues - Professora da Universidade Estadual de Maringá – UEM
• Nelson Ari Cardeoso - Coordenador do Núcleo de Estudos Regionais e Urbanos – Ipardes
• Coordenador de mesa: José Augusto Felippe - Coordenação da Região Metropolitana de Maringá – Comem.
9h30 - Integração Regional e Articulação Institucional
• Dílson Peixoto - Diretor Presidente da Grande Recife Consórcio de Transporte
• Luiz Forte Netto - Secretário de Estado - Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano – Sedu
• Silvio Magalhães Barros - Prefeito Municipal – Maringá
• Homero Barbosa Neto - Prefeito Municipal - Londrina
• Coordenadora de mesa: Elza Correia - Coordenação da Região Metropolitana de Londrina – Comel
10h50 - Estudos de Viabilidade de Trens Regionais de Passageiros
• Ayrton Lolo Cornelsen - Engenheiro do Banco de Idéias do Paraná – Instituto de Engenharia do Paraná – IEP
• Silvio dos Santos - Consultor do Laboratório de Transportes e Logística – Labtrans/UFSC
• Rita de Cássia Zignani - Engenheira da Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A. - Trensurb
• Luiz Malucelli Neto - Presidente do Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento – Lactec
• Coordenador de mesa: Mário César Stamm Junior – Universidade Estadual de Londrina – UEL
12h10 – Marco Legal do Transporte de Passageiros e de Cargas
• Afonso Carneiro Filho - Diretor do Departamento de Relações Institucionais – Ministério dos Transportes
• José Baptista Cereser de Oliveira - Gerente Regional de Operações – América Latina Logística - ALL
• Coordenador de mesa: Doris Margareth de Jesus - Chefe de Gabinete da Estrada de Ferro Paraná Oeste S.A. - Ferroeste
13h – Almoço
14h - Panorama do Transporte Ferroviário de Passageiros no Brasil
• Marcelo Perrupato e Silva - Secretário de Política Nacional de Transportes – Ministério dos Transportes
• Raul de Bonis Almeida Simões - Diretor de Planejamento, Expansão e Marketing - Companhia Brasileira de Trens Urbanos – CBTU
• José Gaspar Souza - Presidente da Companhia do Metropolitano do Distrito Federal – Metrô DF
• Marco Arildo Prates da Cunha - Diretor Presidente da Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A. – Trensurb
• Coordenador de mesa: Carlos Alberto Hirata – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina - Ippul
15h30 - Intervalo
15h50 – Panorama da Indústria Ferroviária de Passageiros no Brasil
• Vicente Abate - Presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária – Abifer
• Fernando Marins - Presidente da Bom Sinal Indústria e Comércio
• Wagner Bittencourt de Oliveira (a confirmar) - Diretor de Estruturação de Projetos; Infraestrutura e Insumos
• Coordenador de mesa: Fernando Afonso Camargo – Urbanização de Maringá S.A. – Urbamar
17h - Encerramento
Samuel Gomes - Diretor Presidente da Estrada de Ferro Paraná Oeste S.A. – Ferroeste

domingo, 20 de setembro de 2009

Ministro e réu: Indicado de Lula para o STF é condenado em processo

REVISTA VEJA, semana até 23 de setembro de 2009

Indicado a uma vaga no STF, Antonio Toffoli foi condenado
duas vezes a devolver dinheiro aos cofres públicos, mas
as sentenças não são definitivas


Cabe a somente onze brasileiros, homens e mulheres que compõem a mais alta corte do país, o Supremo Tribunal Federal, a nobre tarefa de proteger o espírito da Constituição da República – documento que consagra os princípios e os valores da democracia e da Justiça no Brasil. Não é fácil tornar-se um desses defensores. O candidato precisa ser brasileiro nato, ter mais de 35 anos, exibir notável saber jurídico e apresentar reputação ilibada. O presidente da República indica um candidato. Cabe ao Senado confirmar ou rejeitar a escolha presidencial. Esse é um processo que costuma ser rápido, formal e reverente. Ou seja, o Senado nunca rejeita as indicações do Planalto. Essa tradição pode mudar com a mais nova indicação do presidente da República, José Antonio Dias Toffoli, advogado-geral da União, que pleiteia a vaga deixada pelo jurista Carlos Alberto Direito, morto no começo deste mês. Toffoli é brasileiro nato, tem 41 anos, não tem mestrado, foi reprovado duas vezes no concurso para juiz estadual e apresenta escassa produção acadêmica. Sua experiência profissional mais evidente, antes de entrar no governo, foi a de advogar para o PT. O fraco currículo, porém, não é o seu maior obstáculo. Toffoli é duas vezes réu. Ele foi condenado pela Justiça, em dois processos que correm em primeira instância no estado do Amapá. Em termos solenemente pesados, a sentença mais recente manda Toffoli devolver aos cofres públicos a quantia de 700.000 reais – dinheiro recebido "indevidamente e imoralmente" por contratos "absolutamente ilegais", celebrados entre seu escritório e o governo do Amapá.

Os negócios que resultaram na dupla condenação do candidato a ministro do STF ocorreram entre 2000 e 2002, na gestão do então governador do Amapá, João Capiberibe. Nesse período, Toffoli acumulou dois trabalhos prestados a Capiberibe. O primeiro foi o de "colaborador eventual" do governo do estado. O segundo, levado a cabo pelo escritório de advocacia de Toffoli, foi o de defender os interesses pessoais de Capiberibe e de seu grupo político junto ao Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília. Até aqui nada de ilegal aos olhos da Justiça ou de pouco ético do ponto de vista de quem precisa ter "reputação ilibada" para se candidatar a uma vaga no STF. A coincidência de data dos dois trabalhos prestados por Toffoli e seu escritório a Capiberibe, no entanto, chama atenção. Enquanto recebia dinheiro para assessorar o governo do Amapá, Toffoli defendia também interesses pessoais de Capiberibe em três processos no TSE. No dia 14 de julho de 2000, o governo do Amapá contratou Toffoli como "colaborador eventual", sem precisar honorários ou função específica. Dez dias depois, Toffoli ingressou com uma ação no TSE em favor de Capiberibe. A sentença condenatória contra Toffoli sugere que se está aqui diante não de uma coincidência, mas de uma manobra para pagar com dinheiro público um advogado e seu escritório por prestarem serviços particulares ao governador.

A recente indicação do sentenciado para ocupar uma vaga no STF transforma uma questão cível corriqueira em um embaraço do tamanho do Pico da Neblina. Apenas para se ter uma ideia da confusão, o que ocorreria se Toffoli for confirmado pelo Senado para o STF e, mais tarde, seu processo for subindo de instância e chegar ao próprio STF? Não é incomum que juízes se tornem réus de ações cíveis e até criminais. O que pode haver de extraordinariamente novo aqui é um réu se tornar não apenas juiz – mas ministro da corte constitucional brasileira. Os processos contra o futuro ministro tramitam no Tribunal de Justiça do Amapá. Ambos resultam de ações populares, um instrumento jurídico que, segundo a Constituição que Toffoli talvez venha a defender, pode ser utilizado por qualquer cidadão que pretenda anular um "ato lesivo ao patrimônio público ou à moralidade". O ato lesivo resultou da contratação do escritório do atual advogado-geral da União pelo governo do Amapá. O objeto do contrato era "prestar serviços técnicos profissionais na esfera judicial e/ou administrativa". Toffoli e seu sócio receberam 420 000 reais no decorrer de um ano. Nas palavras de Mário Cézar Kaskelis, um dos juízes do caso, trata-se da "exorbitante quantia" de 35 000 reais mensais (60 000 reais, em valores atualizados), para deixar à disposição do governo do estado dois advogados.

Complica ainda mais o caso o fato de os advogados terem sido contratados ao cabo de um mecanismo que pareceu ao juiz Kaskelis uma "suposta licitação... eivada de nulidade". Escreveu o juiz: "Houve simplesmente uma espécie de terceirização dos serviços que a administração pública já dispunha, através do seu quadro de procuradores. O contrato é absolutamente ilegal, estando viciado por afronta ao conjunto de regras da administração pública e da moral jurídica". Em outro processo, que corre na 4ª Vara Cível de Macapá, o juiz Luiz Carlos Kopes Brandão condenou Toffoli, em 2006, a devolver 20 000 reais recebidos diretamente do governo do Amapá, como "colaborador eventual". Diz o juiz Brandão: "Não é preciso esforço algum para perceber a ilegalidade e a lesividade do contrato. Houve afronta aos princípios da impessoalidade e da moralidade".

Toffoli não quis conversar com os repórteres de VEJA sobre os processos, mas orientou sua advogada, Daniela Teixeira, a dizer à revista que já apelara da condenação e que a sentença "está suspensa". Esse é o ponto de vista do réu. A Justiça do Amapá informa que ainda não se pronunciou sobre os argumentos de Toffoli para anular a sentença. Até que o juiz
se manifeste, a sentença permanece válida. A favor do candidato de Lula para a vaga do ministro Direito no STF, é preciso reconhecer que as evidências mais fortes de ilegalidade apontam mesmo para o comportamento do governador do Amapá e de seus auxiliares. Qual seria a responsabilidade do escritório de Toffoli caso os honorários tenham sido pagos ilegalmente, mas essa circunstância lhe tenha sido sonegada? Os juízes de primeira instância debruçaram-se sobre essa questão e, na visão deles, Toffoli e seu escritório, cientes ou não da ilegalidade do contrato, devem arcar com o prejuízo. Os juízes se baseiam na lei que regula a ação popular, o instrumento utilizado nos dois processos. O juiz Kaskelis é especialmente contundente nesse particular: "Eles (os advogados) estavam conscientes de que lesavam o Erário e, após receberem pelos contratos ilegais/imorais, não podem agora ter chancelados tais procedimentos pelo Judiciário". O juiz observa ainda um elemento agravante no caso: "Não se pode vislumbrar a existência de boa-fé da sociedade de advogados e seus membros que, pela própria natureza dos serviços que prestam em conluio com agentes administrativos, desempenharam conduta sabidamente contrária à lei".

Mesmo sob o choque de palavras tão duras como as da sentença acima, Toffoli pode estar certo. Seu escritório pode não ter nenhuma responsabilidade nos contratos com o governo do Amapá. Os contratos podem não ser ilegais. Os serviços podem ter sido prestados. Sua atuação como advogado no TSE em favor do grupo político com o qual assinou esse contrato pode não ter relação com a licitação estadual. Poder, pode. Mas um aspirante a ministro do STF com um currículo pouco convincente deveria ao menos chegar às portas da indicação sem estar na condição de réu. Procurado por VEJA, o ex-governador João Capiberibe, também condenado no caso, forneceu a seguinte negativa: "Estou achando tudo isso muito estranho. Tenho convicção de que o Toffoli nunca advogou para mim. Não tenho a menor lembrança de ter passado alguma procuração para ele. Eu nunca assinaria esses contratos de advocacia porque sei que seriam ilegais". Mas assinou – e Toffoli comprovadamente trabalhou para Capiberibe como advogado em pelo menos outros oito processos envolvendo aliados do governador.

A indicação de Toffoli é a oitava de Lula para o Supremo. Até agora, o presidente – que foi informado da condenação – havia conseguido modular sabiamente suas escolhas, equilibrando-se entre o dever republicano de optar por juristas de indiscutível capacidade intelectual e a inevitável tentação de apadrinhar simpatizantes do projeto político petista. Carlos Ayres Britto, ministro indicado por Lula e próximo ao PT, apresenta um inconteste domínio das leis, das teorias jurídicas e do bom senso. Joaquim Barbosa é de esquerda, mas sua visão ideológica não impediu que desferisse um golpe contra a quadrilha de mesma ideologia que produziu o mensalão. A indicação de Toffoli é de outra natureza. Um dos empecilhos mais incontornáveis para ele é sua visceral ligação com o PT, especialmente com o ex-ministro José Dirceu, o chefe da quadrilha do mensalão. De todos os ministros indicados por Lula para o Supremo, Toffoli é o que tem mais proximidade política e ideológica com o presidente e o partido. Sua carreira confunde-se com a trajetória de militante petista – essa simbiose é, ao fundo e ao cabo, a única justificativa para encaminhá-lo ao Supremo.

Formado pela USP, ele jamais fez pós-graduação, mestrado ou doutorado. Em 1994 e 1995, foi reprovado em concursos para juiz estadual em São Paulo. Depois disso, abriu um escritório e começou a atuar em movimentos populares. Nessa militância, aproximou-se do deputado federal Arlindo Chinaglia e deu o grande salto na carreira ao unir-se ao PT. Em Brasília, aproximou-se de Lula e de José Dirceu, que o escolheram para ser o advogado das campanhas de 1998, 2002 e 2006. Com a vitória de Lula em 2002, foi nomeado subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, então comandada por Dirceu. Com a queda do chefe, pediu demissão e voltou à banca privada. Longe do governo, trabalhou na campanha à reeleição de Lula, serviço que lhe rendeu 1 milhão de reais apenas em honorários. No segundo mandato, voltou ao governo como chefe da Advocacia-Geral da União. Toffoli pode vir a ser o terceiro ministro mais jovem da história do STF. Dependendo do que os senadores considerem como reputação ilibada, pode, também, ser o primeiro a viver o constrangimento de ter sua indicação rejeitada. PARA VOLTAR AO BLOG, CLIQUE AQUI

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Saiba o que mudou no Brasil em um ano de crise

FABRÍCIA PEIXOTO, BBC BRASIL, 18 de setembro de 2009

Nem uma marolinha, como chegou a prever o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nem um tsunami, como esperavam muitos empresários. É assim que analistas descrevem o resultado da crise no Brasil, pelo menos até o momento.

Um ano depois da quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, alguns indicadores econômicos, entre eles o crédito e o desemprego, já voltaram aos níveis pré-turbulência.

Mas nem tudo são flores: as exportações estão 30% menores, e a dívida pública não para de subir.

Ainda é cedo para análises conclusivas sobre o impacto da crise no país, já que alguns indicadores podem levar mais tempo para mostrar os sinais da turbulência. No entanto, já é possível ter uma ideia de como o país vem se comportando.

Afinal, houve recuperação? Onde? Por quê? A BBC Brasil selecionou alguns indicadores – sociais, econômicos e políticos – para ilustrar como estava o país antes da crise e como se encontra agora, um ano depois. Clique nos links abaixo para saber mais sobre cada tópico:


Emprego


Ainda que lentamente, desemprego vem apresentando queda no Brasil

Antes: O ano de 2008 foi um dos melhores da história do país em termos de geração de empregos, seja com carteira assinada ou no setor informal. A geração de empregos com carteira assinada bateu recorde no 1º trimestre do ano passado, com 554 mil contratações.

Com a economia brasileira aquecida, praticamente todos os setores foram beneficiados, com destaque para a indústria de transformação e de construção civil.

O resultado foi um ano de contratações e, como consequência, de redução do desemprego. O índice de desocupados, que ficou em 9,3% na média em 2007, caiu ainda mais em 2008: para 7,9% - o menor índice da série histórica do IBGE.

Depois: Em dezembro de 2008, o mercado de trabalho começou a mostrar os sinais da crise. Somente naquele mês, 655 mil pessoas foram demitidas do mercado formal, o pior resultado desde 1999. A situação se agravou nos quatro meses seguintes. De janeiro a abril, o desemprego no país subiu de 8,2% para 8,91%.

O pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcelo Neri, diz que a crise atingiu principalmente os trabalhadores com maiores salários. "A crise certamente foi pior para os ricos", diz.

Neri avalia que os setores mais afetados – financeiro e indústria de exportação – costumam pagar salários maiores do que outros setores, como o de serviços. "Os que ganham menos acabaram sendo poupados, pelo menos até o momento", afirma.

Mas os especialistas já veem sinais de retomada. Ainda que lentamente, o desemprego vem caindo e chegou a 8% em julho – o melhor resultado deste ano.


Pobreza e desigualdade subiram nos primeiros quatro meses do ano

Antes: O ganho real do brasileiro apresentava uma trajetória de crescimento expressivo desde 2003, em função principalmente da queda da inflação no período e de aumentos significativos do salário mínimo.

Um estudo do Ipea indicava que os ganhos foram ainda maiores para os trabalhadores de menor renda. De 2003 a 2007, esse grupo recebeu quatro vezes mais do que os ocupados de maior renda, o que ajudou a reduzir a desigualdade no país.

Em 2008, não foi diferente. O brasileiro chegou ao mês de dezembro do ano passado recebendo, em média, R$ 1.284,90 – com ganho de 3,4% no ano, já descontada a inflação.

Segundo o Ipea, todas as categorias tiveram ganho acima da inflação em 2008. Os servidores públicos foram os mais beneficiados, com aumento real de 4,8%. No setor privado, o ganho foi de 2,4%.

Depois: A partir de janeiro, no entanto, o país registrou uma forte inversão dos números. A crise se agravou no país, o desemprego aumentou e, como consequência, a renda do trabalhador passou a ficar negativa. A renda caiu de forma contínua de janeiro a junho, com uma perda acumulada de 2,5% no semestre.

Uma das hipóteses para a queda do rendimento nos primeiros meses do ano foi a troca de empregos em meio à crise. Segundo economistas, a situação fez com que as empresas não só demitissem, como também contratassem novos funcionários por um salário menor.

Um levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que a pobreza e a desigualdade – que vinham caindo de forma constante de 2003 a 2008 - voltaram a subir nos primeiros quatro meses de 2009.

A partir de maio, porém, o cenário volta a melhorar. De acordo com Marcelo Neri, pesquisador da FGV, os indicadores de pobreza já voltaram ao patamar de 12 meses atrás. "Empatamos o jogo, pelo menos", diz o economista.


Para manter economia aquecida, o governo lançou mão de medidas fiscais

Antes: O ano de 2008 foi de recorde para o caixa do governo federal, que arrecadou R$ 685,6 bilhões, volume 7,6% maior que o de 2007, já descontada a inflação.

O resultado foi impulsionado principalmente pelo bom desempenho das empresas, que lucraram mais e, portanto, pagaram mais impostos.

Em 2008, o resultado primário (economia feita pelo governo para pagamento de juros) ficou em 4,07% do PIB – ou seja, um superávit de US$ 118 bilhões. A conta inclui as três esferas de governo e as empresas estatais. O resultado foi maior do que a meta definida pelo governo, de 3,8% do PIB.

A dívida líquida em relação ao PIB, outro importante indicador da solvência de um país, também caiu ao longo de 2008. De janeiro a dezembro, a dívida caiu 4,3 pontos para 38,8%.

Depois: A crise, no entanto, acertou em cheio as contas públicas. Para manter a economia aquecida, o governo federal lançou mão de medidas fiscais, como a redução do IPI sobre os carros, que diminuíram o dinheiro em caixa.

Além disso, houve uma abrupta redução dos impostos arrecadados das empresas, que sofreram com lucros menores.

Já são nove meses de quedas seguidas na arrecadação. Somente neste ano (de janeiro a julho), a receita está 7,3% menor do que a do mesmo período de 2008.

O resultado prejudicou a economia do setor público. De janeiro a julho, o superávit primário foi de 2,25% do PIB – menos da metade do valor economizado no mesmo período do ano passado.

A dívida líquida vem crescendo mês a mês. De acordo com o Banco Central, a dívida do país chegou a 44,1% do PIB em julho, o que representa uma alta de 4,5 pontos percentuais desde janeiro.


Crescimento econômico

Economia brasileira saiu da recessão no 2º trimestre deste ano

Antes: Até o agravamento da crise financeira, em setembro, o desempenho da economia brasileira vinha de um período de pelo menos cinco anos de crescimento e estabilidade, com a inflação sob controle.

No primeiro semestre de 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 6% em relação ao mesmo período de 2007. Com juros mais baixos e renda maior, as famílias brasileiras tiveram mais acesso ao crédito, impulsionando o consumo interno.

A indústria e a agropecuária também acumularam bons resultados nos últimos anos, graças à valorização de algumas commodities no mercado internacional. De janeiro a setembro de 2008, o PIB do setor industrial cresceu 6,4%, e o da agropecuária, 4,2%.

Depois: Em setembro, porém, a crise financeira prejudicou o acesso das empresas ao crédito e desestabilizou as exportações brasileiras.

Além da falta de crédito, as empresas exportadoras enfrentaram a redução da demanda no mercado internacional. De setembro a dezembro, o PIB da indústria brasileira encolheu 7,4% em relação ao mesmo período de 2008.

As famílias também sentiram o baque da crise. Com crédito escasso e mais caro, o consumo interno registrou uma queda de 2% no último trimestre de 2008, a primeira queda em seis anos.

Com todos esses efeitos negativos, o PIB do 4º trimestre caiu 3,6% em relação ao trimestre anterior, a maior queda desde 1996. No primeiro trimestre de 2009, a economia voltou a cair, dessa vez em 0,8%, confirmando a recessão técnica no país.

Estimulada principalmente pelo consumo interno, a economia brasileira saiu da recessão no 2º trimestre deste ano, com crescimento de 1,9% - e o governo já estima expansão de 1% em 2009.


Aprovação ao governo Lula

Em setembro, aprovação do governo foi de 65,4%, e a de Lula, de 76,8%

Antes: A aprovação ao governo Lula, assim como à figura do presidente, crescia mês a mês desde novembro de 2005, de acordo com levantamento do Instituto Sensus, a pedido da Confederação Nacional dos Transportes (CNT).

Em novembro de 2005, a avaliação positiva do governo era de 31,1%. Em setembro de 2008, a poucos dias da quebra do banco Lehman Brothers, esse número chegou a 68,8%. No mesmo período, a aprovação (ou popularidade) ao presidente saiu de 46,7% para 77,7%, o maior nível até então registrado pelo instituto.

Pela pesquisa Datafolha, mais antiga que a Sensus, a aprovação máxima atingida pelo presidente Fernando Henrique Cardoso durante seu governo foi de 47%. Cientistas políticos creditavam o bom desempenho do presidente Lula nas pesquisas ao crescimento econômico do período.

Depois: Tanto a aprovação ao governo como ao presidente Lula continuaram crescendo nos meses imediatamente após o agravamento da crise financeira. A popularidade do presidente, por exemplo, chegou a 84% em janeiro.

Na pesquisa seguinte, no entanto, o número caiu. O brasileiro tomou maior conhecimento da crise e, em março, a aprovação do presidente perdeu quase oito pontos percentuais, para 76,2%. Ainda assim, um número considerável, especialmente para um presidente em 2º mandato.

A queda, no entanto, mostrou-se passageira. As medidas adotadas pelo governo, como a redução de impostos sobre carros e eletrodomésticos, foram bem recebidas pelo brasileiro: em maio, a aprovação do governo subiu sete pontos, para 69,8%, e a do presidente ganhou cinco pontos, para 81,5%.

Na pesquisa mais recente realizada pelo Sensus/CNT, a aprovação ao governo e ao presidente voltaram a oscilar para baixo – mas, desta vez, o motivo apontado não foi mais a crise financeira, e sim a crise política. Em setembro, a aprovação ao governo foi de 65,4%, e a do presidente ficou em 76,8%.


Papel do Estado na economia

Presidente Lula disse que Estado passou a ter papel 'extraordinário'


Antes: A história recente dos mercados vinha sendo marcada pelo liberalismo econômico, corrente que nasceu nos Estados Unidos, na década de 1980, e que foi sendo gradualmente aceita e adotada, sobretudo nas democracias ocidentais.

Uma de suas principais bandeiras é a auto-suficiência dos mercados. Ou seja, agentes econômicos seriam capazes, por conta própria, de prevenir o surgimento de novas crises financeiras.

Um dos maiores defensores dessa linha foi o então presidente do Banco Central americano, Alan Greenspan. Sob sua tutela, o governo dos Estados Unidos adotou um modelo que permitiu maior liberdade à atuação de instituições financeiras.

O discurso defendido pela maior economia do mundo acabou influenciando o mercado internacional. Ainda que com ênfases diferentes, os principais países também passaram a defender a política econômica de não-intervenção do Estado na economia.

Depois: O surgimento de uma crise no centro financeiro dos Estados Unidos colocou em xeque o pensamento liberal até então vigente. O próprio Greenspan admitiu, durante uma audiência no Congresso americano em novembro passado, ter errado "parcialmente" na condução da política monetária e financeira.

Com o agravamento da crise, os principais países do mundo passaram a defender abertamente uma maior participação do Estado na economia. Essa tem sido, por exemplo, uma das principais bandeiras nas reuniões do G20 (grupo dos principais países ricos e emergentes).

O discurso também vem sendo adotado no Brasil. Nas palavras do presidente Lula, o Estado passou a ter um papel "extraordinário".

Em entrevista à BBC Brasil, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo deve ser "indutor" de alguns setores. "Não é o velho estatismo, mas é uma maior participação do Estado do que os liberais pregam", disse.


Juros

Desde janeiro, taxa básica de juros no Brasil caiu de 13,75% para 8,75%

Antes: Antes de a crise financeira aportar no Brasil, a equipe econômica do governo tinha outra preocupação: a volta da inflação. Ao longo de 2008, o consumo do país vinha crescendo a uma taxa anual de 9%, o que - para o Banco Central - demonstrava um aquecimento excessivo.

Com juros em queda desde 2003, o brasileiro pegou mais empréstimos. O crédito para pessoa física, que - no início de 2005 - correspondia a 7% do PIB, subiu para 12% em janeiro de 2008.

Desde o início de 2008, o Banco Central passou a alertar sobre um provável desequilíbrio: o consumo andava mais rápido do que a produção, pressionando os preços para cima.

Por esse motivo, em abril de 2008, o Banco Central decidiu aumentar a Selic para 11,75%, a primeira alta desde 2005. O fantasma da inflação justificou ainda mais três elevações dos juros ao longo do ano, chegando a 13,75% em dezembro de 2008.

Depois: Com o agravamento da crise financeira, a partir de setembro, o Banco Central enfretou um dilema: era preciso decidir o que preocupava mais, se a inflação ou uma possível recessão. A decisão foi aguardar: nas reuniões de setembro e dezembro de 2008, a Selic foi mantida em 13,75%.

O setor produtivo, como a Confederação Nacional da Indústria, e até parte dos analistas de mercado, criticaram a elevação dos juros em meio à crise econômica – em movimento contrário ao adotado nas principais economias do mundo.

A partir de janeiro, a política monetária passou a ser usada para diminuir o impacto da crise no Brasil. Desde então, a taxa caiu de 13,75% para 8,75%. O consumo interno, que havia caído no 1º trimestre do ano, voltou a impulsionar a economia no 2º trimestre, com alta de 2,1%.

Em agosto, os juros para pessoas físicas cobrados pelos bancos no país chega a 7,57% ao mês, o menor nível desde 1995.


De janeiro a agosto, houve retração de 24% nas exportações brasileiras

Antes: A valorização de commodities no mercado internacional, aliada a uma política de diversificação de mercados, contribuiu para a expansão das exportações brasileiras nos últimos anos.

De 2003 a 2008, as vendas de produtos brasileiros no exterior cresceram 174%, ajudando a impulsionar a indústria no país.

Com o consumo no país em alta, as importações tiveram um desempenho ainda mais significativo, com alta de 258% no mesmo período.

No acumulado de janeiro a setembro de 2008, ou seja, até o agravamento da crise financeira, as exportações bateram recorde, com vendas de US$ 150,8 bilhões.

Depois: A quebra do banco Lehman Brothers acertou em cheio a oferta de crédito internacional. Com isso, as empresas exportadoras brasileiras enfrentaram sérias dificuldades para encontrar financiamento no exterior.

O setor teve de lidar ainda com a redução do consumo mundial, diante da possibilidade de uma recessão generalizada. O comércio internacional foi fortemente afetado pela crise.

O resultado tem sido a queda nas exportações brasileiras. De janeiro a agosto, houve retração de 24% sobre o mesmo período de 2008.

A crise não só diminuiu o volume das vendas, mas também mudou o perfil dos produtos exportados: os industrializados vêm perdendo espaço para os produtos básicos (commodities) – o que alguns economistas descrevem como um "empobrecimento" das exportações brasileiras.