CORREIO BRAZILIENSE, Aldo Paviani, 1 de junho de 2011
As grandes cidades possibilitam a elaboração de uma geografia do desperdício, que tem estreita ligação com a sustentabilidade urbana. Essa exige esforços coletivos na direção de dois projetos: o da escolaridade plena e o reaproveitamento dos descartes, do lixo e de entulhos, danosos à natureza. Os centros urbanos apresentam alguns tipos de desperdícios como: o lixo produzido e não reciclado, porque é jogado na natureza; a mão de obra não aproveitada, sobretudo nas periferias metropolitanas, por falta de postos de trabalho novos, pelos empregos eliminados no “período técnico-científico-informacional” (termo criado pelo grande geógrafo Milton Santos) ou pelo despreparo educacional para enfrentar atividades exigentes em conhecimento científico e tecnológico.
O desperdício de braços e massa cinzenta dos trabalhadores terá solução quando a educação se tornar prioridade nacional: família motivada a colocar as crianças em escolas equipadas, com educadores bem remunerados e entusiasmados com sua missão. No preparo de crianças e jovens para o período técnico-científico-informacional, a cidadania passa a ser importante para conquistar espaço nas cidades. As metas de todas as crianças na escola e a obrigatoriedade do término do segundo grau serão importantes para elevar o IDH do Brasil, que ocupa a 73ª posição em 169 países.
A cada dia se exige maior escolaridade: empresas e entidades governamentais oferecem oportunidades de trabalho que demandam profissionais com graduação completa, caminhando para a exigência de mestrado e, em certos casos, de doutorado. Claro, o projeto educacional não pode colocar imposições somente ao estudante; requer escolas organizadas, limpas e motivadoras ao estudo e docentes preparados. O estímulo salarial aos docentes foi, em parte, resolvido com o piso salarial, que será atrativo para que os professores tenham tranquilidade financeira. Bem remunerados, os docentes haverão de incrementar seus currículos com cursos de capacitação e pós-graduação. A bolsa escola e a merenda escolar são complementos importantes nas periferias urbanas, pois crianças e jovens com esses incentivos terão maior capacidade de assimilar os conteúdos. Muitos países seguiram esse caminho para o desenvolvimento. O Brasil se motivará para tanto?
O lixo urbano estaria em lista levantada pelo Correio Braziliense como a “oitava praga”, pois incomoda e prejudica o cotidiano dos urbanitas e é uma ameaça à sustentabilidade. De fato, as grandes cidades tornaram-se verdadeiras fábricas de lixo, com baixa capacidade de solução ambientalmente admissível.
A sustentabilidade urbana não acontece porque o lixo se acumula nos quatro cantos das cidades. O material descartado e o lixo são jogados a esmo e demonstram que a população não está educacionalmente preparada para a civilidade, a reciclagem e a coleta seletiva. Mesmo em cidades novas como Brasília, tida como planejada, é frequente encontrar verdadeira indústria de reformas, responsável pela poluição ambiental, quando o entulho e as sobras são jogados em terrenos baldios, rios, riachos e lagos. O transporte em caminhões de lixo e terra exige basculantes hermeticamente fechados para evitar que a carga se espalhe pelo caminho.
Cada reforma, ou obra nova, deveria estimular a reciclagem dos restos de construção. Esses materiais, triturados, poderiam ser a base para a pavimentação de vias públicas ou mesmo para produzir tijolos e paredes para novas habitações a baixo custo. Outros vilões da poluição ambiental são sacos plásticos e papéis jogados fora. Se forem para a sarjeta são danosos à natureza, pois entopem bocas de lobo ou vão diretamente para os corpos d’água. Como o plástico se deteriora lentamente, ocasiona prejuízos irreparáveis aos cursos hídricos e mananciais. A saúde pública perde com garrafas, latas e pneus usados, pois esse lixo pode acumular água e contribuir para a proliferação da dengue e outras doenças que afetam principalmente a população carente.
Que soluções são oferecidas para o lixo? O aterro sanitário (os lixões) e a incineração. Ambas têm impacto ambiental, um pela poluição do ar e o outro pela descarga do chorume no lençol freático, com poluição da água subterrânea e de nascentes. A reciclagem se torna solução viável, econômica, social e ambientalmente falando. Reciclagem de materiais servidos emprega pessoas, oferece ganhos financeiros e possibilita a manutenção da qualidade do meio urbano, a caminho da desejável sustentabilidade.
Aldo Paviani é professor emérito da UnB e pesquisador associado do Departamento de Geografia e do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais (Ceam/UnB)
As grandes cidades possibilitam a elaboração de uma geografia do desperdício, que tem estreita ligação com a sustentabilidade urbana. Essa exige esforços coletivos na direção de dois projetos: o da escolaridade plena e o reaproveitamento dos descartes, do lixo e de entulhos, danosos à natureza. Os centros urbanos apresentam alguns tipos de desperdícios como: o lixo produzido e não reciclado, porque é jogado na natureza; a mão de obra não aproveitada, sobretudo nas periferias metropolitanas, por falta de postos de trabalho novos, pelos empregos eliminados no “período técnico-científico-informacional” (termo criado pelo grande geógrafo Milton Santos) ou pelo despreparo educacional para enfrentar atividades exigentes em conhecimento científico e tecnológico.
O desperdício de braços e massa cinzenta dos trabalhadores terá solução quando a educação se tornar prioridade nacional: família motivada a colocar as crianças em escolas equipadas, com educadores bem remunerados e entusiasmados com sua missão. No preparo de crianças e jovens para o período técnico-científico-informacional, a cidadania passa a ser importante para conquistar espaço nas cidades. As metas de todas as crianças na escola e a obrigatoriedade do término do segundo grau serão importantes para elevar o IDH do Brasil, que ocupa a 73ª posição em 169 países.
A cada dia se exige maior escolaridade: empresas e entidades governamentais oferecem oportunidades de trabalho que demandam profissionais com graduação completa, caminhando para a exigência de mestrado e, em certos casos, de doutorado. Claro, o projeto educacional não pode colocar imposições somente ao estudante; requer escolas organizadas, limpas e motivadoras ao estudo e docentes preparados. O estímulo salarial aos docentes foi, em parte, resolvido com o piso salarial, que será atrativo para que os professores tenham tranquilidade financeira. Bem remunerados, os docentes haverão de incrementar seus currículos com cursos de capacitação e pós-graduação. A bolsa escola e a merenda escolar são complementos importantes nas periferias urbanas, pois crianças e jovens com esses incentivos terão maior capacidade de assimilar os conteúdos. Muitos países seguiram esse caminho para o desenvolvimento. O Brasil se motivará para tanto?
O lixo urbano estaria em lista levantada pelo Correio Braziliense como a “oitava praga”, pois incomoda e prejudica o cotidiano dos urbanitas e é uma ameaça à sustentabilidade. De fato, as grandes cidades tornaram-se verdadeiras fábricas de lixo, com baixa capacidade de solução ambientalmente admissível.
A sustentabilidade urbana não acontece porque o lixo se acumula nos quatro cantos das cidades. O material descartado e o lixo são jogados a esmo e demonstram que a população não está educacionalmente preparada para a civilidade, a reciclagem e a coleta seletiva. Mesmo em cidades novas como Brasília, tida como planejada, é frequente encontrar verdadeira indústria de reformas, responsável pela poluição ambiental, quando o entulho e as sobras são jogados em terrenos baldios, rios, riachos e lagos. O transporte em caminhões de lixo e terra exige basculantes hermeticamente fechados para evitar que a carga se espalhe pelo caminho.
Cada reforma, ou obra nova, deveria estimular a reciclagem dos restos de construção. Esses materiais, triturados, poderiam ser a base para a pavimentação de vias públicas ou mesmo para produzir tijolos e paredes para novas habitações a baixo custo. Outros vilões da poluição ambiental são sacos plásticos e papéis jogados fora. Se forem para a sarjeta são danosos à natureza, pois entopem bocas de lobo ou vão diretamente para os corpos d’água. Como o plástico se deteriora lentamente, ocasiona prejuízos irreparáveis aos cursos hídricos e mananciais. A saúde pública perde com garrafas, latas e pneus usados, pois esse lixo pode acumular água e contribuir para a proliferação da dengue e outras doenças que afetam principalmente a população carente.
Que soluções são oferecidas para o lixo? O aterro sanitário (os lixões) e a incineração. Ambas têm impacto ambiental, um pela poluição do ar e o outro pela descarga do chorume no lençol freático, com poluição da água subterrânea e de nascentes. A reciclagem se torna solução viável, econômica, social e ambientalmente falando. Reciclagem de materiais servidos emprega pessoas, oferece ganhos financeiros e possibilita a manutenção da qualidade do meio urbano, a caminho da desejável sustentabilidade.
Aldo Paviani é professor emérito da UnB e pesquisador associado do Departamento de Geografia e do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais (Ceam/UnB)
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