segunda-feira, 23 de maio de 2011

Ex-secretário de saúde defendeu a contratação do Gálatas, diz conselheiro

JORNAL DE LONDRINA, 23 de maio de 2011

Em depoimento ao Gaeco nesta segunda-feira, o médico e conselheiro de saúde, José Luiz Camargo, afirmou que Agajan Der Bedrossian apresentou ao conselho a tese da contratação do instituto


O médico José Luiz Camargo, membro do Conselho Municipal de Saúde, disse nesta segunda-feira (23), em depoimento prestado ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que ex-secretário de Saúde, Agajan Der Bedrossian, apresentou ao conselho a tese da contratação do instituto Gálatas. Os conselheiros Marcos Ratto e Joel Tadeu, então, fizeram a defesa do Gálatas, que foi aprovado por maioria absoluta, somente com dois votos contra: o de Camargo e o de Fahd Haddad, que votaram em branco.

De acordo com Camargo, essa decisão foi tomada depois de o Conselho ter aprovado a contratação da Santa Casa e da HUTEC. O argumento de Agajan – que seria o mesmo da administração municipal – é de que o valor pedido pelos dois órgãos estaria fora do alcance da prefeitura.

Camargo, que se absteve na votação dos institutos, afirmou que os conselheiros aprovaram que a segunda Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) seria escolhida pela Secretaria de Gestão Pública. Os conselheiros não sabiam antecipadamente que se tratava do instituto Atlântico.

O ex-secretário de Saúde Agajan Der Bedrossian vem sendo procurado pelo JL para se pronunciar sobre a crise em Londrina há pelo menos três semanas, mas ele avisou que não pretende falar com a imprensa. Pelo telefone, um membro da família reafirmou que Agajan não fez lobby pelos institutos e se absteve de votar no momento da escolha das duas entidades.

Na ata da reunião do Conselho Municipal de Saúde daquele dia, a qual o JL não conseguiu acesso, estaria registrado que HUTec e Santa Casa seriam os preferidos para a execução dos serviços pelo então secretário de saúde.

Depoimentos - O dia foi movimentado no Gaeco. Os irmãos Flávio e Antônio Carlos Martins, que foram presos na última segunda (16), ainda não foram ouvidos. Isso porque eles estariam com problema de saúde. Um deles, Flávio, foi submetido a uma angioplastia para desobstruir uma artéria.

Além de Camargo, outras duas pessoas foram depor nesta tarde. O diretor do instituto Atlântico, Lucas Cavenaghi Modesto, foi ao Gaeco para falar sobre as declarações que ele prestou anteriormente. Em dezembro, quando o Atlântico assinou contrato com a Prefeitura de Londrina, Modesto era o presidente. Ele contou que deixou a presidência da Oscip em janeiro, um mês depois da assinatura do contrato. Foi sucedido por Bruno Valverde.

Modesto disse não ter conhecimento do suposto esquema de irregularidades e nem da suposta relação da primeira dama, Ana Laura Lino, com o pagamento das propinas. Ele afirmou que vai se desligar do Atlântico esta semana. Modesto decidiu sair antes da Operação Antissepsia e cumpria aviso prévio.

Outro depoimento da tarde foi do diretor financeiro da Secretaria de Saúde, João Carlos Barbosa Perez. Ele foi acompanhado pela procuradora municipal Renata Siqueira e disse que foi convidado a “prestar esclarecimentos”.

Perez falou, em entrevista coletiva, que sua diretoria reteve pagamentos porque o serviço não estava sendo cumprido na sua totalidade. “Está tudo documentado. Nós glosamos [retemos] o que não foi executado. Se a previsão era de 40 médicos e só contrataram 30, nós glosamos [o pagamento de] 10”, explicou Perez.

Segundo ele, “não há execução a contento” do contrato, o que justifica a retenção dos pagamentos. No total, foram retidos R$ 2,473 milhões desde janeiro. Ele afirmou que “havia divergência de opiniões” com o ex-procurador Fidélis Canguçu, que defendia o pagamento dos valores cheios aos institutos e que a retenção dos valores dos serviços não prestados deveria ocorrer só no final do contrato.


A operação
A Operação Antissepsia foi deflagrada em 10 maio depois de o Ministério Público receber denúncias de um suposto esquema de desvio de recursos da área da saúde envolvendo os institutos Atlântico e Gálatas. O ex-procurador Geral do Município Fidélis Canguçu e mais 14 pessoas foram presas. Canguçu foi exonerado do cargo depois do anúncio da prisão. Quatro dos presos foram liberados no mesmo dia após fazer acordo.

Foram apreendidos R$ 20 mil em dinheiro com Canguçu, além de três armas e diversos documentos na Procuradoria, no prédio da Prefeitura e nos institutos. Ao todo, 30 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Londrina, Cambé, Arapongas, Bela Vista do Paraíso e Jataizinho.

A investigação começou há quatro meses, por conta de denúncias de empresários que teriam sido procurados para dar notas fiscais frias para justificar serviços prestados pelas Oscips.

O papel de Fidélis Canguçu no esquema seria o de fazer a abordagem aos institutos para cobrar a propina. A moeda de troca para receber a propina seria a liberação dos pagamentos dos valores pelos serviços prestados. Um dos institutos teria pago em torno de R$ 120 mil de propina a Canguçu.

No dia 13, a Justiça atendeu ao requerimento do Ministério Público e prorrogou a prisão temporária de nove suspeitos. Gláucia Chiararia e Sílvio Luz Rodrigues, do Instituto Gálatas, foram soltos.

No entanto, na segunda (16) e na terça (17) ocorreram mais quatro prisões, subindo para 20 o total de envolvidos no esquema. Na quinta (19), o Ministério Público cumpriu um mandado de busca e apreensão na Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU) e na casa do presidente da companhia, André Nadai. Lá, foram encontrados R$ 29 mil em dinheiro, guardados num envelope.

No mesmo dia, surgiu a denúncia de que a primeira-dama, Ana Laura Lino, teria recebido dinheiro da propina paga pelas duas Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips) que mantêm contratos com a prefeitura. Até esta segunda-feira (23), nove investigados continuavam presos.


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