Estado é terceiro maior consumidor de defensivos; apenas em 2009, gasto com produtos foi de quase US$ 1 bilhão
O último levantamento feito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em junho do ano passado, apontou que o pimentão é o grande vilão da mesa do brasileiro: 80% das amostras analisadas no País apontaram resíduos de defensivos químicos. No Paraná, a situação é ainda mais preocupante, com 85% das amostras do alimento apontando contaminação. Na sequência, vêm a uva (56% de contaminação das amostras no País) e o pepino (54% de contaminação).
O morango vem em quarto lugar, com um índice de 50% de contaminação. No Paraná, porém, a porcentagem de frutos contendo resíduos químicos chega a 71%. Um fenômeno que também ocorre com o abacaxi e com o mamão: no País, 44% e 38% das amostras, respectivamente, estavam contaminadas, enquanto no Paraná este índice chegou a 85% no caso do abacaxi e 57% em se tratando do mamão. O engenheiro agrônomo Iniberto Hamerschmidt, coordenador estadual de olericultura do Instituto Emater, lembra, porém, que nem todo produto à venda no Estado é produzido aqui. No caso do abacaxi, por exemplo, quase todo o volume vem de fora.
Hamerschmidt ressalta que produtos como batata e tomate, que tradicionalmente encabeçavam a lista dos mais contaminados, hoje apresentam índices menos preocupantes. A batata nem chegou a entrar na relação dos 10 que apresentaram mais resíduos, enquanto o tomate ficou em penúltimo lugar, com um índice de contaminação de 32% no País e 42% no Paraná. ''A situação está melhorando, mas ainda não é a ideal. Ainda é muito comum os produtores tentarem controlar as doenças de uma determinada cultura utilizando produtos indicados para outra. Este é o grande problema das contaminações'', explica o agrônomo.
Segundo Hamerschimidt, quando são utilizados os produtos indicados para a cultura e respeitados os prazos de carência (período que decorre entre a aplicação e a colheita) os males para o organismo são bem menores. ''Até um determinado nível, os resíduos são eliminados pela urina'', esclarece. Outra forma de minimizar os efeitos químicos é consumir frutas e legumes da época - por serem adaptados ao clima da estação e à região, é possível produzi-los sem recorrer a tantos insumos. Na impossibilidade de consumir produtos orgânicos (que dispensam adubos e defensivos químicos), também há a opção de recorrer aos alimentos mais rústicos, como mandioca, batata doce, mandioca salsa, cará e nhame, entre outros, que dependem de menos agrotóxicos.
O agrônomo ressalta que atualmente 150 municípios do Paraná mantêm produções orgânicas. Embora não chegue nem à metade dos municípios, Hamerschimidt afirma que o Estado tem evoluído neste tipo de cultivo. O último levantamento (safra 2008/2009) apontou para uma produção de 138 mil toneladas de orgânicos e mais de sete mil produtores.
No Paraná, que ocupa o terceiro lugar do ranking dos estados que mais consomem defensivos agrícolas, um estudo do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) sobre indicadores de sustentabilidade ambiental por bacias hidrográficas apontou que o Estado possui 80% de seu território ocupado pela produção agropecuária e utiliza 12Kg de agrotóxico por hectare ao ano, enquanto a média brasileira de consumo é um terço menor, de 4Kg/ha/ano.
As regiões que mais consomem são a de Cascavel (23kg/ha/ano), Londrina (21 kg/ha/ano) e Ponta Grossa (20 kg/ha/ano). Nestas regiões, há também o uso de agrotóxico com o máximo nível de periculosidade.
O morango vem em quarto lugar, com um índice de 50% de contaminação. No Paraná, porém, a porcentagem de frutos contendo resíduos químicos chega a 71%. Um fenômeno que também ocorre com o abacaxi e com o mamão: no País, 44% e 38% das amostras, respectivamente, estavam contaminadas, enquanto no Paraná este índice chegou a 85% no caso do abacaxi e 57% em se tratando do mamão. O engenheiro agrônomo Iniberto Hamerschmidt, coordenador estadual de olericultura do Instituto Emater, lembra, porém, que nem todo produto à venda no Estado é produzido aqui. No caso do abacaxi, por exemplo, quase todo o volume vem de fora.
Hamerschmidt ressalta que produtos como batata e tomate, que tradicionalmente encabeçavam a lista dos mais contaminados, hoje apresentam índices menos preocupantes. A batata nem chegou a entrar na relação dos 10 que apresentaram mais resíduos, enquanto o tomate ficou em penúltimo lugar, com um índice de contaminação de 32% no País e 42% no Paraná. ''A situação está melhorando, mas ainda não é a ideal. Ainda é muito comum os produtores tentarem controlar as doenças de uma determinada cultura utilizando produtos indicados para outra. Este é o grande problema das contaminações'', explica o agrônomo.
Segundo Hamerschimidt, quando são utilizados os produtos indicados para a cultura e respeitados os prazos de carência (período que decorre entre a aplicação e a colheita) os males para o organismo são bem menores. ''Até um determinado nível, os resíduos são eliminados pela urina'', esclarece. Outra forma de minimizar os efeitos químicos é consumir frutas e legumes da época - por serem adaptados ao clima da estação e à região, é possível produzi-los sem recorrer a tantos insumos. Na impossibilidade de consumir produtos orgânicos (que dispensam adubos e defensivos químicos), também há a opção de recorrer aos alimentos mais rústicos, como mandioca, batata doce, mandioca salsa, cará e nhame, entre outros, que dependem de menos agrotóxicos.
O agrônomo ressalta que atualmente 150 municípios do Paraná mantêm produções orgânicas. Embora não chegue nem à metade dos municípios, Hamerschimidt afirma que o Estado tem evoluído neste tipo de cultivo. O último levantamento (safra 2008/2009) apontou para uma produção de 138 mil toneladas de orgânicos e mais de sete mil produtores.
No Paraná, que ocupa o terceiro lugar do ranking dos estados que mais consomem defensivos agrícolas, um estudo do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) sobre indicadores de sustentabilidade ambiental por bacias hidrográficas apontou que o Estado possui 80% de seu território ocupado pela produção agropecuária e utiliza 12Kg de agrotóxico por hectare ao ano, enquanto a média brasileira de consumo é um terço menor, de 4Kg/ha/ano.
As regiões que mais consomem são a de Cascavel (23kg/ha/ano), Londrina (21 kg/ha/ano) e Ponta Grossa (20 kg/ha/ano). Nestas regiões, há também o uso de agrotóxico com o máximo nível de periculosidade.
Agrotóxico vai
à mesa junto
com alimentos
Oferecer uma refeição saudável à família não depende mais da simples escolha de pratos cheios de legumes, verduras e frutas. Por causa da utilização exagerada ou incorreta de agrotóxicos no cultivo de muitos alimentos, os produtos chegam à mesa do consumidor com resíduos irregulares, o que pode representar risco à saúde.
O último levantamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostra que pimentão, pepino, uva e morango são os produtos com maior índice de contaminação. As principais irregularidades, conforme o órgão regulador, são o uso de produtos não recomendados para a cultura ou aplicação excessiva dos defensivos.
Não existem provas concretas sobre a relação entre uso inadequado de agrotóxicos e incidência de doenças como câncer e distúrbios no sistema endocrinológico. No entanto, pesquisas realizadas sobre o tema apontam para a possibilidade de associação entre os dois fatores. No Paraná, por exemplo, que usa uma quantidade anual de agrotóxicos três vezes maior do que a média nacional, pesquisadores investigam se os defensivos podem ter relação com o fato de a incidência de um tipo raro de câncer ser 15 vezes maior no Estado do que no restante do País.
''Ainda não temos como aferir se os resíduos nos alimentos vão trazer danos à saúde, mas sabemos que existem riscos e que o ideal é as pessoas não ingerirem produtos com agrotóxicos. Não dá para menosprezar esse perigo'', afirma Luiz Cláudio Meirelles, gerente geral de toxicologia da Anvisa. A agência mantém desde 2001 o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (PARA), que avalia a presença de até 230 produtos em vinte culturas em todo Brasil.
O maior problema detectado, de acordo com Meirelles, é o uso de agrotóxicos não autorizados para a cultura avaliada. ''Os produtos autorizados passam por avaliação toxicológica que calcula o risco que o consumidor vai ter ao ingerir o alimento que recebeu o agrotóxico. Se não há análise, existe imprecisão neste risco'', observa.
Segundo o gerente, muitos produtores e extensionistas agrícolas de algumas regiões não têm acesso a informações sobre o uso correto dos defensivos, o que torna difícil reduzir a quantidade de resíduos nos alimentos. Além disso, agricultores têm dificuldade em entender rótulos e bulas dos produtos.
''Outro fator é a escassez de fiscalização, porque o País é muito extenso. Faltam fiscais e estrutura, por isso, a Anvisa foca principalmente na conscientização de agricultores e técnicos'', diz, lembrando que a responsabilidade pela fiscalização é das secretarias estaduais de Agricultura e Ministério de Agricultura.
Sobre os dez anos do PARA, Meirelles analisa que o grande avanço foi em relação à implementação de ações diversas para minimizar a presença de resíduos. ''Vários estados têm políticas próprias de controle de agrotóxicos'', lembra. Além disso, muitos produtos com maior potencial de toxicidade foram retirados do mercado, como é o caso do metamidofós, que só poderá ser utilizado até meados do ano que vem.
Outro avanço citado pelo gerente geral é o comprometimento da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), que passou a monitorar produtos comercializados em grandes redes e inclusive fornece as informações sobre os resultados para a Anvisa.
Pesquisadores investigam
relação com câncer
A relação entre resíduos de agrotóxicos nos alimentos e as possíveis consequências desses produtos para a saúde humana tem motivado diversas pesquisas científicas. Professora da Faculdades Pequeno Príncipe, de Curitiba, a química Adriana Pimentel de Almeida Carvalho desenvolveu a tese de doutorado, na Universidade Estadual Paulista (Unesp), sobre o tema.
O trabalho foi baseado no Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (PARA) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Com base nos resultados do levantamento da Anvisa, ela ofereceu doses similiares dos defensivos irregulares na ração de animais e, a partir da análise de amostras de fígado, cérebro e tecido adiposo, desenvolveu um método para quantificar o quanto dos produtos permanecia no organismo. ''O objetivo é relacionar esses dados à manifestação do câncer. Como o estudo não terminou, não há dados concretos sobre essa relação.''
Independentemente da pesquisa, Adriana afirma que, quimicamente, a molécula do agrotóxico é muito favorável a causar a doença. ''Por serem solúveis em gordura, ficam acumuladas no organismo e ainda podem ser transferidas para descendentes. Ao reagirem com outros fatores, as moléculas podem desencadear enfermidades'', observa.
Além das moléculas de agrotóxicos presentes em legumes, verduras e frutas, há resíduos dessas substâncias na água, no peixe que se alimenta das plantas contaminadas, no gado que come pastagens tratadas com defensivos e até no ovo e no leite. ''Noventa por cento da exposição do homem aos agrotóxicos é por ingestão de alimentos'', afirma. O perigo maior está na quantidade de moléculas acumuladas ao longo da vida e transferida para novas gerações. ''Se a pessoa tem algum problema de saúde ou tendência a desenvolver o câncer, essas moléculas vão ajudar o problema a se manifestar.''
Fatores ambientais - O projeto Geomedicina, desenvolvido pelo Instituto Pelé Pequeno Príncipe, de Curitiba, estuda a relação entre os fatores ambientais e a saúde pública num determinado espaço geográfico. O objetivo inicial foi identificar se existe algum fator externo que explique porque, no Paraná, o câncer do córtex adrenal se manifesta 15 vezes mais que em outras regiões do País.
No sistema estão sendo correlacionados os dados de elementos químicos presentes na água e no solo do Paraná - como é o caso dos agrotóxicos -a informações de saúde. Os dados serão cruzados às informações levantadas na pesquisa do câncer de córtex adrenal, gerando um mapa de incidência da doença.
Segundo o médico Bonald Cavalcante de Figueiredo, pesquisador na área de câncer pediátrico e diretor científico do Instituto Pelé Pequeno Príncipe, a única certeza determinada pela pesquisa é que o câncer de córtex adrenal ocorre em maior proporção nas pessoas que possuem uma mutação genética.
Enquanto três em cada cem pessoas com a mutação desenvolvem o câncer, o índice passa para uma a cada três milhões de pessoas com a doença no grupo sem mutação. ''Estamos buscando, no grupo que possui a mutação, quais outros fatores desencadeiam o câncer. Entre as possibilidades estão os agrotóxicos, cigarros, doenças virais, bactérias e até hábitos alimentares'', informa.
Mestrado da UEL - Desde fevereiro, docentes de vários Centros da Universidade Estadual de Londrina (UEL) ministram o curso de mestrado profissional em Toxicologia Aplicada à Vigilância Sanitária (Anvisa) na sede da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em Brasília (DF). O curso é voltado à qualificação das gerências de toxicologia, medicamentos e alimentos e o tema ''agrotóxicos'' é um dos conteúdos mais discutidos.
A coordenadora do mestrado é a biomédica, doutora em saúde coletiva pela Unicamp e docente da UEL, Monica Bastos Paolielo. Ela explica que o curso tem duração de três anos. ''O foco é fortalecer e qualificar estes profissionais, numa área tão importante que é a toxicologia'', destaca.
A grade é composta por disciplinas obrigatórias como avaliação de riscos à saúde, epidemiologia e bioestatística. Os alunos são 30 gerentes da Anvisa formados em áreas diversas como médicos, químicos, bioquímicos, veterinários, biomédicos, agrônomos, advogados.
Monica observa que a UEL foi indicada por ter larga ''experiência, excelência e qualidade comprovadas'' na área. Ela comenta que o mestrado é importante porque gera conhecimento que, depois poderá ser disseminado país afora. é um caminhar, não acontece do dia para outro.
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