segunda-feira, 18 de abril de 2011

Cohapar: 75% dos gerentes têm “apadrinhamento”

GAZETA DO POVO, 18 de abril de 2011

Dos treze gerentes nas regionais da Cohapar, apenas dois pertencem ao quadro da autarquia: Gerson Verlang, da regional de Francisco Beltrão; e Djalma da Silva, chefe do escritório em Maringá. Ver­lang já ocupou o mesmo posto de 1995 a 2002, na administração do governador Jaime Lerner. Além dos funcionários de carreira da empresa, o engenheiro civil Jorge Sâmara, escolhido para gerir o escritório da região dos Cam­­pos Gerais, pode ser apontado como nome técnico por sua experiência no setor imobiliário. Sâmara que atua pela primeira vez no setor público, no entanto, admite que foi cabo eleitoral do governador Beto Richa em Ponta Grossa. Sua indicação também teria o aval do atual prefeito Pe­­dro Wosgrau Filho (PSDB).

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Na regional de Campo Mou­rão, o escolhido foi o administrador Ricardo Widerski, que tinha experiência na área por já ter exer­­cido a presidência da Coha­mourão – companhia municipal de habitação. Porém, a reportagem apurou que sua nomeação contou com o impulso de par­­lamentares da região: o deputado federal Rubens Bueno e o estadual Douglas Fabrício, am­­bos do PPS.

Outro que estreia no setor público é o empresário do setor gráfico Odejalma de Moura Cor­deiro, encarregado do escritório sediado em Cascavel. Cordeiro é formado em administração e afirma ter pós-graduação em ciência política e planejamento estratégico. A reportagem apurou, porém, que seu nome foi indicado pelo deputado federal Alfredo Kaefer (PSDB) para representar o setor industrial da re­­gião Sudoeste.

Os outros nomes têm caráter eminentemente político, a começar pelo ex-vereador Paulo Arildo Domingues (PSDB), no­­meado chefe da regional de Londrina. Arildo foi condenado em setembro do ano ano passado à perda do mandato de vereador e à suspensão dos direitos políticos por dez anos, num caso em que é acusado de dividir o salário dos assessores que trabalhavam com ele. Antes da cassação, porém, ele renunciou ao mandato.

Ele conta que trabalhou na campanha de Beto Richa “com o carro todo adesivado”. Sobre sua nomeação, diz que foi “uma escolha do governador com o aval do secretário da Fazenda, Luiz Carlos Hauly”.

Na regional de Paranavaí, o vereador de Santa Cruz do Monte Castelo José Boni interrompeu seu quarto mandato consecutivo para assumir a regional por indicação do deputado Adelino Ri­­beiro (PSL). Outro ex-vereador é Edony Kluber, indicado pelo de­­putado estadual Cezar Silvestri Filho (PPS) para a regional de Guarapuava.

A Casa Civil ainda não no­­meou o vereador e ex-secretário municipal Julio Adilson Pires (PP) como gerente da regional de União da Vitória. Seu nome, po­­rém, é dado como certo após a in­­dicação do presidente da As­­sem­­bleia Legislativa, Valdir Ros­­soni (PSDB).

Candidato - O ex-prefeito de Rio Bom (PSDB) Moisés José de Andrade An­­drade é o chefe regional de Apu­carana. De acordo com ele, a sua indicação partiu do deputado federal Alex Canziani (PTB) e de Ale­xandre Curi (PMDB). “Fizemos um trabalho em conjunto aqui para garantir a eleição do Beto. É claro que isso aju­­dou”, admite.

Andrade reconhece que é grande a chance de deixar o cargo para concorrer novamente à prefeitura de Rio Bom. “As pesquisas de intenção apontam o meu nome e seria um sonho voltar à prefeitura ao lado de um governo estadual com quem temos tantas afinidades”, disse.


Problema se repete
no país inteiro,
afirma especialista

O uso político dos cargos da área de habitação é uma prática comum em todo o país, se­­gundo o cientista político Sér­­gio de Azevedo, especialista na área habitacional. De acordo com ele, a área de habitação é uma das mais atraentes para políticos interessados em usar a máquina do Estado em interesse próprio.

Para Azevedo, o déficit ha­­bitacional brasileiro torna a casa própria um bem extremamente disputado, o que reforça o apetite dos políticos pelos cargos públicos do setor. Com a alta demanda por casas populares, um cargo de gestão numa companhia de habitação é de grande valia para um político e seus aliados.

“É um problema que não se resolve facilmente. O político está em campanha permanente. E ter controle sobre esses re­­cursos críticos é muito importante”, comenta Azevedo.

Ele explica que, ao poder de­­finir quais regiões serão beneficiadas com programas de ha­­bitação, o gestor reforça suas chances de conseguir mais vo­­tos nas próximas eleições. Tra­­ta-se também de um bem caro para o cidadão, mas relativamente barato para os governos – ou seja, um meio eficaz de agradar o eleitor.

Mão dupla - Azevedo diz que se trata de uma via de mão dupla: os políticos se sentem atraídos pelo controle dessas áreas porque a população vota em candidatos que tragam melhorias concretas para a comunidade. “Os po­­líticos não são marcianos, eles dançam conforme a música”, diz.

Além disso, existe o valor simbólico da moradia. “A casa própria tem um significado diferente para os setores mais populares”, explica Azevedo. De acordo com ele, ter uma ca­­sa traz um sentimento de segurança financeira para a população mais pobre. Trata-se de um bem que pode ser de grande valia em uma situação inesperada – a propriedade se torna uma espécie de seguro para o morador.

Outros estados - O problema não é exclusivo do Paraná: em todo o Brasil, afirma Azevedo, as políticas ha­­bitacionais estão intimamente ligadas a interesses eleitorais, em todos os níveis. O grau, no entanto, varia conforme a região. Por exemplo: no Rio Grande do Sul, o grau de in­­terferência política de prefeitos e parlamentares nas po­­líticas de habitação do estado é menor do que no Rio de Janei­ro, diz ele.


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