quinta-feira, 5 de maio de 2011

PT gastou R$ 11 milhões com nanicos

O GLOBO, 5 de maio de 2011

Prestação de contas ao TSE mostra que principais legendas fecharam o ano eleitoral com dívida de R$37,4 milhões. Após abandonar o candidato tucano, José Serra, num acordo em junho com o PT, o PSC obteve sete repasses do partido de Dilma Roussef, de R$250 mil a R$1 milhão


O apoio de partidos aliados à campanha da presidente Dilma Rousseff custou ao PT mais de R$11 milhões em 2010. Alguns dos beneficiados com recursos petistas são partidos pequenos, nanicos até, e de atuação periférica no Congresso. Outros, como o PSC, chegaram a flertar com a oposição, mas acabaram caindo nas graças da chapa vitoriosa após muita negociação política. A prestação anual de contas de 2010, apresentada pelos partidos e divulgada ontem pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), também mostra que as principais siglas do país fecharam o ano de eleições com a conta no vermelho. As dívidas acumuladas por nove siglas somam R$37,4 milhões.
O PT carregou para este ano rombo de R$15,9 milhões, o maior entre todas as legendas. Só o valor para irrigar os cofres de aliados é dois terços do débito. Partido que chegou a anunciar apoio a José Serra (PSDB), voltando atrás pouco antes do início da campanha, o PSC foi recompensado com o maior montante: R$4,75 milhões.

Após abandonar o PSDB, PSC teve sete repasses do PT - Além de minar a campanha adversária, os petistas faturaram 20 segundos na propaganda eleitoral e, de sobra, levaram para o Congresso uma bancada cristã fiel e turbinada. A agora legenda governista elegeu 11 deputados, mas já cresceu e hoje desfila com 18 deputados.

Em maio do ano passado, o PSC chegou a indicar o ex-senador Mão Santa (PI) para vice na chapa presidencial do PSDB. Após abandonar o barco tucano, num acordo em junho com o PT, obteve sete repasses, de R$250 mil a R$1 milhão. Os valores foram para a direção partidária e, nos mesmos dias, pingaram nas contas do comitê eleitoral. Os maiores aportes vieram na reta final do primeiro turno (R$3,5 milhões), quando Dilma precisava reforçar seu prestígio com os evangélicos para afastar a pecha de candidata pró-aborto.

- Não teve imoralidade nem ilegalidade. E não fizemos nenhuma barganha financeira por apoio. O PT ajudou porque fomos parceiros, pegamos firme na campanha - assegura o vice-presidente do PSC, Pastor Everaldo, acrescentando que o tesoureiro do partido teve de "martelar" pedidos aos petistas.

Segundo ele, a primeira ajuda veio em 30 de agosto, cerca de 60 dias após o anúncio de apoio a Dilma. Os repasses mais vultosos foram, diz o PSC, para produzir material contra boatos sobre aborto, já que o próprio PT tinha pedido auxílio. Os repasses finais, de R$750 mil em outubro e novembro, teriam sido para cobrir dívidas de campanha.

Coincidência ou não, a tesouraria petista também foi generosa com o PDT do Paraná, que só decidiu abraçar a candidatura de Dilma poucos dias antes do início da corrida eleitoral. Até o fim de junho, o candidato derrotado ao governo do estado pelo partido, Osmar Dias, refletia entre concorrer ao Senado ao lado dos tucanos ou entrar numa disputa com Beto Richa (PSDB), que foi eleito no primeiro turno, para dar palanque a Dilma. O PT levou a melhor e o PDT não saiu mal, ao menos nas finanças: recebeu R$3,7 milhões.

Dois nanicos, PTN e PTC, receberam R$500 mil cada do PT, como reforço de caixa. O mesmo tanto foi doado a PRB e PR (cada um), este sucessor do PL, legenda aliada que teve o nome envolvido no escândalo do mensalão. À época, o PL teria firmado acordo de R$12 milhões com o ex-tesoureiro Delúbio Soares.

O PSDB também se valeu da estratégia de abastecer com recursos próprios as campanhas de seus satélites políticos, mas em valores bem menores. O PTB de Roberto Jefferson - outro arrolado no mensalão - levou R$1,18 milhão. Na campanha de 2010, o partido esteve oficialmente com Serra, mas, na prática, rachou. O DEM, único partido de expressão nacional que operou no azul em 2010, obteve R$600 mil. O PMN ficou com outros R$300 mil dos tucanos.

PSDB é o segundo partido mais endividado - O PSDB acabou o ano amargando dívida de R$11,4 milhões. É o segundo mais endividado, bem à frente do PV, que gastou R$2,4 milhões além do que arrecadou. PR e PP ficaram com débitos de R$1,8 milhão, cada. Logo depois vem o PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer, que entrou 2011 com saldo negativo de R$1,6 milhão.

Segundo o TSE, os partidos que viraram o ano eleitoral endividados serão provocados a explicar se o rombo vem mesmo da campanha ou deve-se a outras razões. Ainda deverão apresentar cronograma de pagamento 72 horas após serem notificados. A Corte não informou quando fará a notificação, já que só agora as prestações de contas partidárias serão analisadas. Procurada, a direção nacional do PT não se pronunciou.

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