terça-feira, 12 de abril de 2011

Diagnóstico de gestão mostra déficit de R$ 4,5 bilhões nas contas do Estado

BEM PARANÁ, 12 de abril de 2011

Números presentados representam compromissos assumidos e não honrados. O levantamento mostra que faltam recursos para concluir obras essenciais, como hospitais de várias regiões. Despesas de água, luz e telefone deixaram de ser pagas e somam R$ 102 milhões, a maior parte referente ao ano de 2010


A equipe do governador Beto Richa que assumiu o Governo do Paraná em 1º de janeiro apurou um déficit de R$ 4,5 bilhões nas contas do Estado. De acordo com o diagnóstico da situação estrutural e administrativa apresentado nesta terça-feira (12) pelo secretário chefe da Casa Civil, Durval Amaral, e pelo secretário do Controle Interno, Mauro Munhoz, os números representam compromissos assumidos e não honrados, ou não previstos no orçamento do Estado para este e para os próximos anos. “A herança que recebemos é caracterizada por obras inacabadas e com estrutura precária, sucateamento de estruturas operacionais e administrativas, planejamento desarticulado e sem iniciativas estratégicas, descumprimento de princípios da Lei de Responsabilidade Fiscal e práticas antieconômicas lesivas ao patrimônio”, disse o secretário Mauro Munhoz.

O levantamento mostra que faltam recursos para concluir obras essenciais, como hospitais de várias regiões. As despesas não pagas de água, luz e telefone, somam R$ 102 milhões, a maior parte referente ao ano de 2010. A conta de restos a pagar chega a R$ 1,9 bilhão. O déficit inclui ainda dívidas trabalhistas, despesas sem empenho e contratos lesivos aos cofres públicos. Um Exemplo: um contrato de reprografia foi renovado sem licitação por seis anos consecutivos, ao custo de R$ 0,13 a cópia, quando o preço médio de mercado é de R$ 0,07 (sete centavos). “Esse contrato foi cancelado e substituído por um novo, em caráter emergencial, com custo 30% inferior ao contratado há cinco anos”, disse Munhoz.

Foram detectados até agora 419 casos de pagamento de funcionários de cargos de confiança que recebiam vantagens especiais na forma de encargos diferenciados e ilegais no período de 2005 a 2010. Por meio desse processo, que ficou conhecido como “turbinamento”, alguns servidores recebiam salários até quatro vezes superiores ao valor original do cargo para o qual foram contratados. Como exemplo, um servidor contratado com salário de R$ 1.073,77 passou a receber ilegalmente R$ 4.238,64. “Ao administrador público não é dado aplicar encargos diferentes para uns servidores e não para outros. Isso será objeto de impugnação das contas do governo passado”, disse o secretário Durval Amaral.

Os gastos com pessoal também motivaram um alerta emitido pelo Tribunal de Contas do Estado, por atingirem o nível de 46% das Receitas Correntes Líquidas, apenas 0,55% abaixo do limite prudencial estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Apesar dessa situação, um conjunto de leis, decretos e despachos governamentais foi assinado nos últimos 180 dias da administração anterior, concedendo aumentos salariais, com impacto de mais de R$ 1,2 bilhão ao ano nas contas estaduais.

Saúde – Por conta da má gestão, principalmente na área de planejamento, algumas áreas têm orçamento insuficiente para as despesas deste ano. Na saúde, por exemplo, os recursos para repasse ao Fundo Estadual de Saúde e aos Fundos Municipais de Saúde são suficientes para apenas oito meses. Será necessário fazer uma suplementação orçamentária, por remanejamento ou por meio de projeto de lei encaminhado à Assembleia Legislativa.

Na área de saúde, descrita como um retrato do caos, projetos com deficiências estruturais, obras inacabadas e equipamentos subutilizados ou em desuso são comuns a todos os hospitais recém-inaugurados. No restante, faltam equipamentos de informática e investimentos em reformas, ampliações ou obras de manutenção. Faltam ainda medicamentos especiais, material médico e de higiene e limpeza, além de haver contratos sem cobertura orçamentária em situações como aluguéis, oxigênio, limpeza e vigilância. “Temos hospital cujo piso não suporta a instalação de equipamento de esterilização, outro não tem estacionamento nem área de necrotério, casos em que não foi instalado ar condicionado no centro cirúrgico e até um hospital que não tem condições de fazer cirurgias”, disse o secretário da Saúde, Michele Caputo Neto.

Em 31 de janeiro, a Secretaria da Saúde tinha dívidas com credores no valor de R$ 53 milhões e despesas sem empenho de R$ 99 milhões. O orçamento de 2011 para o custeio, de R$ 372 milhões, é R$ 20 milhões inferior ao empenhado para 2010 (R$ 392 milhões).


Criminalidade sobe enquanto estrutura da segurança é sucateada
De acordo com o levantamento da equipe de governo, a escalada da criminalidade, principalmente na região de Curitiba, ocorreu ao mesmo tempo em que a estrutura da segurança pública era sucateada. Além da redução do contingente de policiais civis e militares, as delegacias estão superlotadas (40 foram interditadas), obrigando mais de 2.000 policiais a trabalhar na custódia e carceragem, que não são função da Polícia Civil. No Instituto Médico Legal de Curitiba havia 119 corpos não entregues aos familiares, alguns desde 2008. A frota de veículos policiais está sucateada e defasada em tecnologia embarcada e de equipamentos de informática. Faltam vagas em presídios, colônias penais agrícolas e industriais, por isso apenas 21% dos presos de penitenciárias trabalham.


Governo encerra período de suspensão de pagamentos
A partir de agora todos os contratos que estiverem regulados serão pagos
A apresentação do diagnóstico da administração pública, nesta terça-feira (12), marcou também o fim do período de suspensão dos pagamentos, decretado pelo governador Beto Richa em janeiro. De acordo com o secretário chefe da Casa Civil, Durval Amaral, “a partir de agora, automaticamente todos os contratos que estiverem regulares serão pagos”. Os que apresentam irregularidades, informou, serão auditados e objeto das providências necessárias.

“O balanço que apresentamos hoje é um marco divisor. Vamos agora olhar para o futuro e fazer o governo que todos os paranaenses esperam – um governo de conciliação, moderno e desenvolvimentista, como é a determinação do governador Beto Richa”, disse o secretário.

Amaral ressaltou que o diagnóstico apresentado pela atual administração não tem qualquer conotação de retaliação política. “Era necessário levantar dados para conhecer a fundo a realidade e prestar contas à sociedade paranaense, seguindo o princípio da transparência na administração pública. Não nos cabe fazer julgamentos, mas não podemos prevaricar”, afirmou.

De acordo com o secretário, casos que possam caracterizar improbidade administrativa ou descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal, entre outras irregularidades, serão encaminhados aos órgãos competentes – como o Tribunal de Contas do Estado, o Ministério Público Estadual e o Ministério Público Federal – para apuração de responsabilidades.

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